15 setembro 2016

RESENHA: A Vitória da Infância

A Vitória da Infância - Capa

A Vitória da Infância é um livro composto por uma coleção de crônicas já escritas pelo autor, sendo esta seleção feita com relação as crianças, a infância. Através dessa seleção Sabino mostra várias facetas da infância, mostrando desde momentos muito agradáveis e divertidos até momentos traumáticos e revoltantes. Não fecha os olhos para o que efetivamente acontece na realidade da infância das crianças brasileiras, mostrando que independentemente da classe social que a criança está inserida, existe uma inocência comum em todas elas, talvez a inocência que em alguma passagem bíblica, dita pelo próprio Jesus, que todos os homens devem descobrir em si mesmos para encontrar o reino dos céus, como pode ser lido em Mateus 19 (na verdade ele fala sobre a criança interior, não a inocência infantil, a qual passo a tratar como uma dependente da outra).
As crônicas dão em média de 2 a 3 laudas, sendo uma leitura rápida e divertida! São 29 crônicas no total, sendo difícil escolher a melhor, pois cada crônica contem valores diferentes, algumas com humor e outras com ironia. Em função de querer falar do livro e sobre o que eu achei irei escolher 3 crônicas.


Protesto tímido
"A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
Murmuraste um protesto tímido."
 (SABINO, 1997, p.102)

Andando pelas ruas dos grandes centros urbanos encontramos de tudo: lojas, grandes aglomerações de pessoas, carrinhos de pipoca e sorvete, vendedores ambulantes, mendigos, bandidos, policiais, etc. Muitas dessas coisas são normais encontrar nos centros das cidades, mas o que é preocupante é considerar normal crianças abandonadas nas ruas pedindo esmolas para sobreviver, futuros delinquentes marginais que sentem a revolta da vida já nos primeiros anos de vida. Grave é a insensibilidade que temos ao considerar um morador e, principalmente, um menino de rua como um saco de lixo. Deixamos de lado o que nos caracteriza como humanos em prol de um bom desenvolvimento econômico e moral. Compaixão com o outro ser, ternura por uma criança desconhecida, reflexão e incompreensão do sistema econômico são elementos que cruzarão ao longo dessa crônica.

As coisas da vida
"- É história de quê?
- De como nascem os bebês. Pode ler tudinho, você vai gostar.
- É história de criança?"
(SABINO, 1997, p.122)

As crianças costumam fazer perguntas aos adultos que tendem a deixá-los confusos de como podem responder tais perguntas. Essa dificuldade em responder está pautada no moralismo, naquilo que se pode e não pode dizer, dos valores e toda essa restrição social que vem aos poucos diminuindo. Falar sobre sexualidade sempre foi tabu, principalmente entre os pequenos! Sexualidade é uma das coisas da vida, coisa está que todo ser acaba descobrindo mais cedo ou mais tarde. Os pais, a família, têm um papel fundamental nessa "coisa", pois a família é organização norteadora do indivíduo, organização está que mais pesa nas decisões de um indivíduo. As complexidades que os pais e as mães passam para lidar com esse tema com seus filhos é tão comum que aparece em cenas de filmes e histórias de livros, como na Vitória da Infância. Nesta crônica o pai tem uma visão mais realista de sua filha, no que concerne a seus conhecimentos, enquanto a mãe acredita que a filha tem um grau de inocência mais elevado do que realmente tem. 

Viramundo e o trem
"- Eu sei por que o trem não pára.
   Todos se voltaram para ele.
- Não pára porque o maquinista não quer."
(SABINO, 1997, p.135)

Lembra daquele menino que dizia conseguir qualquer coisa só para se aparecer no meio do grupo? Talvez aquele menino fosse você ... mas você sabe que estou para falar daqueles garotos levados, que se divertiam em fazer arte, arte daquelas que só as mães compreendiam! Poise, vida de menino está na superação de novos desafios, fazendo-o sorrir a cada nova conquista, principalmente conquistas que nem ele mesmo um dia pensou em conquistar. Menino levado, que apronta ali e aqui e não demora para que a irmã ou a prima reclame do "menino tentação" que ele é. Em todos os homens houve um menino assim, de coragem e que apostava tudo. Hoje esses homens buscam encontrar esse menino que se perdeu em algum lugar do tempo, assim como o escritor, Fernando Sabino, busca na medida que escreve e que vive. Geraldo Viramundo foi um desses meninos aí. Viramundo, como todo garoto, adora uma aposta e não deixou passar a oportunidade de apostar sua vida em uma arte que todos haveriam de duvidar que ele seria o artista.

É muito difícil escolher apenas 3 de 29, mas creio ser o suficiente para mostrar um pouco do livro, pois afinal, você só precisa saber se irá querer ler ou não. O livro é de leitura fácil e agradável, sendo uma boa leitura para relaxar e aproveitar o momento consigo e os personagens. As histórias fazem lembrar de momentos da infância nos guiando para outros lugares de nós mesmos que não estamos acostumados a acessar. Eu curti!

Minha filha Lara



2 comentários:

Enforque-se na corda da liberdade (Antônio Abujamra)