06 agosto 2017

Direto e claro: Lembranças da infância

1998 ou 1999 - Babi, Pai e eu
Fazem quase 20 anos a foto acima. As fotos nos ajudam a recordar momentos que se foram e ficaram guardadas em nossa memória. Deste dia que se refere a foto tenho vagas lembranças.

Quando olhamos para o passado nunca é de forma linear, ordenada e seguindo etapas cronológicas. Geralmente são coisas, objetos, músicas, uma comida, qualquer coisa que traz uma lembrança específica e quando você se aprofunda consegue desentulhar mais algumas outras relacionadas.

A infância é desde o nascimento até aproximadamente os 12 anos de idade. Irei falar sobre minha infância de onde me recordo até mais ou menos essa idade.

Quando lembro de minha infância sou teletransportado entre o ano de 98 e 99. Eu e minha família morávamos em um apartamento no térreo em um condomínio localizado no Fazendinha na cidade de Curitiba. Nosso apartamento estava no Bloco 21. Enquanto descrevo minha experiência me recordo de outras também relacionadas a este período, mas seria impossível descrever todas. Alguns nomes me vêem à cabeça, como Aninha, Isaac, Cauê, Renan, Têles, Mariana, Alysson, Felipe, Priscila, Murilo, Eliane, Wilson, Beti, Diala ... ah! Diala! Foi meu primeiro amor! Amor de menino tímido pela moça mais velha que tinha olhos verdes, cabelos da cor do ouro e uma graça que só tinha visto em anjos. Ah, Diala ... já te procurei no Facebook há pouco tempo atrás, mas não encontrei nada parecido, de forma que você ficou em minha lembrança apenas como um sonho. Minha irmã era sua amiga e queria brincar de casamento atrás da porta para me dar a oportunidade de lhe dar um beijinho. Tímido que era, tinha vontade de sair correndo, mesmo querendo te abraçar e não lhe deixar mais escapar. Mas alguns amores são apenas para nós fantasiarmos a possibilidade do que poderia ter sido, e por isso são conservados na memória de forma linda, utópica.

Segundo minha mãe eu era conhecido naquele condomínio por ser muito arteiro, aqueles piazinhos com cara de anjo, mas que derruba a moto dos outros, sobe em cima do capô do carro, joga barro no muro, se pindura nas telas, aperta a campainha e sai correndo, bota fogo no próprio cabelo, quebra o vidro das casas "sem querer querendo", e coloca medo em tudo mundo por gostar de brincar com o perigo. Eu já fui esse piazinho.

Desde a minha infância sempre me vi muito sozinho, como um lobo que se enturma em alguns bandos, mas não leva ninguém como família. Sempre tive amigos de momentos, nunca amigos para todas as horas (ou aqueles raros chamados de melhores amigos). Antes de descobrir o vídeo-game eu saia sozinho andar por todo o conjunto e procurar alguma coisa para fazer, algum colega para brincar de bola, de esconde-esconde, de polícia e ladrão ... teve uma vez que me deu caganeira e corri como um louco para chegar em casa, mas quando faltava 10 metros ao objetivo (o banheiro) não resisti e fiquei decepcionado com os borrões que ficaram em minhas calças (creio que minha mãe ficou ainda mais decepcionada).

Quando me lembro desse período em que morávamos no Fazendinha eu encontro muitas experiências para descrever com detalhes, mas me dou conta que minha infância não foi só isso. E também há coisas que gostaria de contar, mas nem tudo podemos deixar público.

Enfim, minha família decidiu se mudar para o estado de Espírito Santo, na cidade de Guarapari juntamente com alguns amigos de Curitiba, estes que eram mineiros. Não tenho tantas lembranças, e algumas que eu tenho são ruins. Uma lembrança que achei bem interessante foi uma vez que eu vi um relâmpago tão forte que foi possível enxergar o esqueleto de minha mãe, que estava deitada ao meu lado. Foi assustador e excitante! Mas se analisar o contexto Ciência, isso foi criação da minha imaginação...

Não sei quanto tempo ficamos em Espírito Santo, mas não foi muito. Lembro-me que nos mudamos para o Litoral do Paraná, onde eu creio que tive minha última festa de aniversário com bolo (minha mãe sempre fazia os bolos, os salgados e os doces de aniversário). Estava fazendo 7 anos.

Meus primos ( Cristiano, Marco Tulio e Allan)
Eu não entendia direito o significado da comemoração de uma festa de aniversário. Eu achava que todas as crianças no mundo mereciam ter e que de uma forma ou de outra elas tinham. Não tinha noção de como era a realidade, noção nenhuma do esforço que foi dado, principalmente da minha mãe, para a realização dessa festa. Foi super simples, mas abençoadamente caprichado. Extremamente grato a você, mãe, pelo esforço para passar momentos felizes e tranquilidade para nossa família, que eu sei que não era nada fácil essa época, principalmente para você.

Nesta mesma época foi quando entrei na escola, isto é, o ensino fundamental. Ouvi falar muito bem de uma professora através da minha prima Nicolle, a famosa professora Isabella (parece que ela ainda leciona).

Eu e a Professora Isabelle
Talvez o nome dela seja Isabella, ou talvez seja bem diferente,  minha primeira professora. No meio do ano minha família decidiu voltar para Curitiba, sendo necessário eu interromper meus estudos nesse período. Não foi possível concluir a primeira série naquele ano. Estávamos morando na Vila Acrópole.
Nesse ano eu aprendi a andar de bicicleta sozinho, onde consegui uma cicatriz na região do estômago que ficou comigo até meus 13 anos, outra história ... também quando morávamos no Acrópole foi minha primeira tentativa de ir embora de casa. Minha irmã foi lá correndo no portão impedir minha ida. Se ela não tivesse ido lá, eu com certeza seria um marginal hoje em dia. Obrigado Babi!

Não moramos lá por muito tempo, logo nos mudamos para o bairro Novo Mundo, próximo ao Capão Raso. Nesta época (2001) comecei a estudar na E.M Maria Clara Brandão Tesseroli (sim, eu pesquisei no Google). Se eu fosse descrever todas as experiências as quais me veem a cabeça, não concluiria nunca esse post. Nesse ano eu entrei em um clubinho, onde a contribuição era 25 centavos (seria como 1 real hoje). Este clubinho era uma cabine de um caminhão velho em cima da traseira de outro caminhão velho, com algumas espumas para podermos sentar e conversar. Pegávamos as correspondências das casas na esperança de encontrar algum dinheiro. Só encontrávamos contas. Ah! Meu teste para entrar neste clubinho era descer um morro sem frear e passar por uma estreita ponte de madeira sem cair no rio. Eu freei e mesmo assim, quase cai no banhado. Por sorte só bati os "ovo" no varão da bicicleta. Quando me perguntaram:

- Você freio, né?!
- Eu não.

Se tivesse dito a verdade eles teriam me feito fazer novamente o teste para entrar no clubinho, e não estava disposto.

Nesse ano também descobri que era alérgico a ovo, pois quando termina o período de aulas as pessoas tinham o costume de quebrar ovos nos outros. Em alguns casos, como os membros do clube, furávamos os ovos e deixávamos enterrados para apodrecerem. Depois era só ir pra guerra. Como eu descobri que era alérgico a ovo? Com uma ovada na cabeça. Por minha sorte, não estava podre.

Bom, quando eu estava na 2ª Série, nesta mesma escola, logo foi necessário nos mudarmos novamente. Desta vez nós nos mudamos para o Bairro Alto, em uma casa de fundo. Minha mãe trabalhava no salão, meu pai trabalhava com meu tio, minha irmã teoricamente cuidava de mim e eu revezava entre o Super-Nintendo e meus bonecos. Fui aluno do C.E Cecília Meireles onde estudei a 2ª Série na turma E. Lembro que uma das minhas professoras se chamava Eliza, que já era uma senhora com + ou - 60 anos. Um dia teve uma atividade que era para fazer a Árvore Genealógica, onde colocamos os nomes dos nossos parentes e familiares (porque é diferente uma coisa da outra) e os professores auxiliavam os alunos nessa atividade. Minha professora veio me questionar:

- Como é o nome de sua Vó?
- Vadia.
- O quê?
- Vadia!
- O nome da sua vó é vadia?
- Acho que sim. Tudo mundo chama ela de Dona Vadia.

Depois conversei com minha mãe em casa sobre o ocorrido. Ela deu risada e me explicou que o nome da minha vó é Avadir. Hoje acredito que minha professora tenha ficado complexada com aquela cena.

Bom, terminei a 2ª Série, comecei a 3ª ainda no Cecília. Nessa época meus pais acharam melhor se separarem. Não sei se estava com 9 ou com 10 anos, o que sei é que isso ocorreu em um dia em que fui na casa de meu primo, minha irmã foi me buscar, eu fiz birra e começamos a brigar durante todo o caminho (coisa de irmão). Ela me agrediu, eu agredi ela (não sei ao certo quem deu o primeiro tapa, mas isso não importa), fui dormir. Acordei com minha mãe me dando bronca, meu pai se ofendeu com algo que ouviu, a discussão tava armada, mas sem baixarias. Minha mãe usou de sinceridade brutal, fria e implacável. Lembro de meu pai se despedindo e partindo. Minha irmã, naquele momento, ficou feliz ou demonstrava algum tipo de contentamento. O clima já estava estranho, apenas pareceu escurecer ainda mais o ambiente que já se encontrava escuro.
A razão de eu sentir pela separação foi de saber que se eu precisasse falar com meu pai eu teria que sair de casa e ir atrás dele, pois não estaria mais na sala assistindo o Jornal Nacional. Talvez essa atitude de minha mãe, entre outras, me levou um dia a dizer a algumas velhinhas "Minha mãe é forte, forte como uma rocha ...", pois é preciso força e coragem para dizer a verdade. 

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
João 8:32

Não deu muito tempo, talvez alguns poucos meses, nos mudamos para Pinhais, perto do Habbibs que tem ali na Jacomel. Terminei minha 3ª Série na E.M. Clementina Cruz. Foi nesse mesmo período que aprendi jogar Sinuca com meu primo Jailson e que aos finais de semana andávamos de bicicleta para jogar 3 fichas e tomar Tubaína. Meu primo gostava de jogar Lamborghini no Super-Nintendo. Lembro-me que criei calo nos dedos de tanto jogar que só parei quando o controle não funcionou mais. Meu pai tinha dado uma bicicleta de presente para a Babi, mas ela quase não usava. Como a Bike era grande e tinha suporte para passageiro, eu e meu primo saímos de Pinhais e fomos até a puta que pariu, que eu acho que era o Hauer, para comprar um controle de vídeo-game.
Quando estávamos voltando o pneu da bicicleta furou e meu primo me falou:

- Henrique, fudeu! E agora? Que sede! O pneu furo. Ou a arrumamos o pneu ou tomamos uma tubaína. Que fazemos?

Eu não sei o que respondi, mas sei que arrumamos o pneu da bicicleta e conseguimos tomar uma tubaína e ainda levar o controle do vídeo-game. Acho que ele estava brincando comigo, pois ele é assim, mas às vezes eu acho que não estava e prefiro pensar assim.

Não postei nenhuma foto desse período porque realmente não tenho.

Bom, depois nos mudamos para o Barreirinha, onde eu estudei na E.M Julia Amaral Di Lenna na 4ª e na 5ª. Foi a escola onde a primeira vez eu enfrentei um valentão, na aula de Educação Física. Eu bati em um piá que tinha fama de briguento e de estar envolvido com os piás da favela, que mexiam com drogas e que tinham armas. Fiquei morrendo de medo depois de tirar sangue do nariz dele, mas no fundo me senti muito orgulhoso (mesmo que isso não seja uma boa apologia moral). Então, quando os amigos daquele garoto vieram me pressionar, dizendo o porque bati nele, eu lembrei de minha mãe que me dizia

"Quando você está na sua razão ninguém lhe tira o direito de se defender".

Eles queriam encontrar uma justificativa para bater em mim de bando, mas toda minha argumentação mostrou a eles que o colega deles mereceu tomar uma na cara. Então nunca mais me perturbaram.

Nessa época (2004-2005) eu acredito que meus pais estavam tentando se conciliar, ou voltar, sei lá. O que acontece é que meu pai já estava morando em Tunas e já estávamos todos acostumados com a situação. Na verdade, a situação de ausência dos meus pais eu já estava acostumado, pois minha mãe trabalhava de manhã e só voltava a noite, quando estava em casa estava cozinhando e preparando as coisas para o dia seguinte, meu pai estava trabalhando em Tunas. Eu e minha irmã que éramos companheiros, mas ainda sim cada um no seu quadrado.

Bom, nesse período meu primo Jailson estava morando conosco e minha mãe tirou férias e foi passar uma semana ou duas (não sei) em Guarapari, ES. Nós três ficamos cada um cuidando de si. Quando minha mãe voltou, voltou com a ideia de ir morar para lá (mais uma mudança). Eu estava começando a 6ª e ela me perguntou se eu queria ir morar com o pai ou ir com ela, dai já começa outro post sobre Guarapari - ES ...

Anyway, isso é apenas um breve relato de fatos que ocorreram sobre minha realidade e minha constituição de ser. Isso só mostra um ponto de vista de outros tantos, pois tenho certeza que a descrição de cada um será diferente.

Eu e minha irmã

A infância é realmente um período muito significativo na construção de nossa personalidade, principalmente porque enquanto crianças nossos comportamentos não são tão influenciados pela moral e os princípios "adultos", dessa forma, agindo de forma mais natural e instintiva. Tão logo aprendemos a usar a racionalidade e deixamos em segundo plano nossa intuição.

Acredito que a vida boa está pautado no equilíbrio das coisas que lhe dão prazer juntamente com os desafios que você irá passar para chegar onde deseja estar. Desfrutar do caminho e daquilo que ele trás com ele, não na esperança de de atingir o que se deseja, pois qualquer desafio a ser superado lhe trará tristeza por representar uma barreira para se chegar no destino desejado.

Nada que é fácil tem graça por muito tempo, então, é importante se preparar, planejar e ir a luta, superando os desafios para conquistar aquilo que ninguém lhe tira: amor próprio; satisfação pessoal; sentimento de realização; vitórias; amor coletivo; transcendência; entendimento; conhecimento.

É claro, sempre haverá mais coisas boas, para algumas mentes coisas ruins, nevermind, a vida é aquilo que acreditamos que ela seja, logo, será diferente para cada um, atraente para alguns, repulsante para outros, mas o eterno movimento que a caracteriza como é: vida.



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