Não há muitas fotos dos meus pais, principalmente deles juntos, porém acho esta foto muito interessante. Acho esta foto interessante por expressar a moda daquela época, talvez tirada em algum ano dos anos 80. As meias vermelhas combinando com a camisa vermelha e o copo com uma dose de Campari realçando o batom vermelho no sorriso de minha mãe. A parede azul em contraste com a base da mesa também azul em ressonância com as calças jeans de meu pai. A expressão feliz e contente de minha mãe ao sorrir para a foto com um sorriso tímido e contido de meu pai. Sim, acho esta foto bem interessante.
Esta época eu não conhecia meus pais, e tudo o que posso saber é através do que me contaram e de minhas interpretações, como a análise que eu faço desta foto que não imagino quando ela foi tirada. Eu vim ao mundo em 93 e as impressões que tenho do relacionamento deles só aparece racionalizadas a partir de meus 5 ou 6 anos de idade, entre a época de 98 e 99. Não é possível ter uma análise apurada a respeito da relação deles nesta época, isto porque eu era uma criança e só sou capaz de julgar a situação de maternidade e paternidade e cumplicidade na tarefa de serem pais, não propriamente marido e mulher. Pois bem, tudo o que você ler daqui em diante é apenas uma interpretação MINHA e de mais ninguém, isso porque tudo o que é dito aqui neste blog só diz respeito a mim. Se perguntarem para eles sobre esta publicação ou para qualquer pessoa próxima a respeito deste assunto, é bem provável que tenham uma outra impressão, isto porque todos nós temos uma forma bem singular de ver o mundo, alguns de forma mais acentuada do que outros.
O fato é que me recordo desta relação quando morávamos no Fazendinha, em um condomínio onde guardo muitas memórias do que chamo ser infância. Eu era uma criança muita arteira e que era necessário estar de olho para que eu não me metesse em nenhuma tragédia ou fizesse alguma. Talvez a crença em Deus e que havia uma anjo muito forte me protegendo sempre deixou minha mãe mais tranquila para cuidar de outras questões, de modo que eu era livre, leve e solto. Não consigo lembrar de muitas momentos que meus pais estiveram juntos só eles ou mesmo nós quatro (mãe, pai, irmã e eu). Lembro de um momento nesta época que meu pai comprou um par de brincos com uma esmeralda (pedra verde) na extremidade dos mesmos. Lembro de ele ter me pedido para entregar a ela e fiz como pedido. Reconheço que ele teve muito bom gosto, pois aqueles brincos realçam a cor dos olhos dela. Não sei se foi no mesmo dia, naquele mesmo momento, mas também me recordo de ele ter me pedido para entregar um anel que também continha uma pedra verde. Também lembro de um momento que ele tinha trazido um buquê de rosas vermelhas, não me lembro a ocasião dos presentes, mas visivelmente foi bem selecionados os presentes. Talvez este tenha sido um dos momentos mais romântico que pude presenciar como criança em relação aos dois.
Porém, ao decorrer do dia não me lembro de minha família presente. Aos finais de semana meu pai costumava ir ao Paraná Clube, aquele que tinha ao lado da Av. Vitor Ferreira do Amaral, onde atualmente está abandonado. Ele gostava muito de se reunir com os amigos, jogar bola, participar de churrasco e tomar com os amigos. Muitas vezes ele me levava junto, eu comia pastel de queijo e tomava choco-milk (da Batavo), brincava no parquinho, andava por perto da piscina, explorava os quiosques e churrasqueiras até dar a hora de ir para casa da minha tia Cirene ou ir para casa. Algumas vezes encontrava minha mãe na casa da minha tia ou somente final da tarde quando chegávamos em casa. Apesar de nós não sermos tão unidos, ainda penso que era uma época mais tranquila do que veio a ser depois, mas claro, cada um relata os fatos ao seu modo.
Aparentemente meu pai sempre trabalhou bastante, viajou muito, de modo que os curtos e pequenos momentos que tínhamos com ele em casa era motivo de alegria, pois queríamos aproveitar, pois não saberíamos quando seria a partida, se haveria uma volta.
Depois que nos mudamos de Curitiba para Guarapari, em que tivemos uma grande mudança em nossa situação econômica, percebi que as coisas não se encaminhavam para uma melhora. Voltamos para Curitiba, moramos de favor, se levantamos e alugamos uma casa, meu pai e minha mãe trabalhando direto, eu e minha irmã cuidando um do outro e isso foi uma rotina que se estendeu por alguns longos anos, onde minha mãe estava cada vez mais sobrecarregada com trabalho, compromissos familiares, atividades de casa; meu pai buscando uma melhor colocação profissional, ampliar sua renda e encontrar meios de ascender em meio a conturbada tarefa de cuidar de uma família e exercer o papel de pai. Nessas conturbações junto a rebeldia dos filhos, na ausência de momentos que lhe trariam maior clareza e entendimento, não se sabe como agir nem o que é o melhor a fazer. Minha irmã sempre esperou ganhar uma atenção, um carinho, uma admiração além do que meu pai poderia dar; meu pai sempre esperou que minha irmã tivesse maturidade, comportamentos que superassem as próprias expectativas e as expectativas alheias; minha mãe sempre buscou suprir o carinho e atenção que minha irmã não recebia; e eu ... eu jogava vídeo-game e brincava com meus bonecos e não percebia o que realmente estava acontecendo a minha volta (ou talvez percebia o suficiente para relatar o que relato).
Eu gostava muito de ir brincar na casa de meu primo Gustavo, filho do meu tio Nelson, pois achava ele muito divertido e ele tinha brinquedos e jogos bem interessantes. Nós nos dávamos muito bem, de tal maneira que um dia minha irmã foi me buscar na casa do meu tio e eu não queria ir embora. Eu e minha irmã brigamos, nos agredimos. Fui dormir cedo aquele dia. De manhã minha mãe veio conversar comigo, sobrecarregada de muitas cargas emocionais e afetiva que carregava consigo, então, no momento da repreensão ela se deixou dizer que "não precisava ter mais uma machão dentro de casa". Isso foi um gancho para meus pais iniciarem a conversa que levaria fim ao relacionamento deles. Na verdade, o relacionamento deles já tinha acabado a muito tempo, porém, a coragem para dar fim aquela situação de ressentimento e iniciar uma vida diferente daquela que eles nós se acostumaram acostumamos a viver foi iniciada naquele dia, naquela conversa.
Em minha mente aquilo foi algo trágico. Meu pai estava indo embora, simplesmente jogando a toalha. Ele tinha pegado a bicicleta dele e carregou um olhar triste e partiu. Não me lembro o que minha mãe conversou comigo naquele instante ou depois, o fato é que muita água passou até chegar onde chegou. Anos se passaram e comecei a refletir e ponderar, principalmente através de novos fatos que descobri até então, que quem sabe não teria sido melhor para eles, ou para nós, como família, se esta decisão não tivesse ocorrido antes? Quem sabe ... o fato é que sempre haverá alguém para dizer que "todas as coisas acontecem no seu tempo" ou "que tudo ocorre conforme a vontade de Deus" ou "eles deveriam ter insistidos, porque isso é amor" ou "deveriam ter se separados na paz, sem mágoas, pois seria melhor para lidar com a relação depois disso" ou .... cada um com sua opinião, porém, poderíamos se perguntar: visando a promoção do bem comum entre os 4 envolvidos, qual teria sido a decisão mais inteligente observando a situação de conflito?
É claro que maior parte das pessoas não buscam pensar sobre isso, que há muitas telenovelas para se assistir, noticiários para acompanhar, usar o tempo para fazer dinheiro, ao invés de reflexões ...
O fato é que creio que o meio como ocorreu este rompimento foi impensado, tomado em uma situação de esgotamento emocional e por isso prejudicial para os 4. É claro, é só a minha visão e interpretação dos fatos que se sucederam em minha vida. O que acontece é que seu presente é consequência de seu passado e seu futuro é o planejamento e decisões no presente que concretizarão de acordo com as circunstâncias apresentadas pela vida. O fato é que senti que muitas coisas atrasaram minha vida, principalmente por conta da falta de entendimento de onde me encontrava. Não há muito tempo que tenho me encontrado, e só me encontrei porque decidi ouvir minha própria voz, o meu coração e o que meu espírito pedia a mim. Comecei a usar meu intelecto para sustentar e criar os caminhos para condizer o que meu coração pedia e isso passou a me fazer uma pessoa muito mais feliz, liberta de angústias e com um pensamento muito mais otimista em relação ao meu próprio futuro, pois ao que diz respeito ao outro é tudo incerto, pois depende mais dele mesmo do que de qualquer outra coisa.
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Enforque-se na corda da liberdade (Antônio Abujamra)