21 junho 2016

RESENHA: Elogio da Loucura

Elogio da Loucura - Capa do eBook
Eu jamais desejaria beber com um homem que se lembrasse de tudo.
Odeio o ouvinte de memória fiel demais.

A obra Elogio da Loucura é escrita por Erasmo de Roterdã a qual é enviada para a apreciação de Thomas More. A obra é uma comédia que tem como primeiro objetivo divertir o leitor e tirar bons sorrisos com a apreciação das palavras em relação com o real. Por seguinte, a obra visa criticar as ações humanas através do crivo da loucura, em especial, criticar os posicionamentos humanos que se enchem de soberba, sentindo-se superiores aos outros humanos. Nesta comédia há, além das pilhérias, uma crítica muito profunda em relação aos costumes religiosos da época, às relações da monarquia com a população, à presunção do homem frente a tudo aquilo que se julga superior ou saber algo além daquilo que compete o seu discernimento. As críticas aparecem na mesma medida que aparecem as piadas, sendo uma coisa só e conseguindo ser engraçado, irônico e perturbador. Mas como já mencionado, a intenção de Erasmo era se divertir com a obra e elogiar a Loucura de tal modo que conseguíssemos entender sua importância e sua presença ao decorrer de nossa curta vida.
Por ser uma obra que deve ser lida com calma, atenção e que exige reflexão para a adequada absorção e aproveitamento do que ali está contido é interessante fazer notas daquilo que julgar interessante e proveitoso para poder ter uma melhor reflexão acerca daquilo que leu, bem como poder reler esses pontos e fazer suas associações mentais em relação a isso. Defendo esse meio por razão de eu ter feito desse modo, pois a saber, não sei se isso é realmente relevante e necessário para demais leitores, mas para mim foi. Deixo isso aqui exposto para que saiba que a resenha conterá trechos copiados literalmente da obra lida em questão, contendo algumas adaptações seguidas de comentários formulados a partir de meu entendimento. Os trechos foram selecionados por meu julgamento do que acho interessante na obra, não tendo necessariamente um compromisso acadêmico.


Este ensaio buscará fazer a defesa da personagem (sim, a loucura é mulher, óbvio) Loucura como deusa importante para a felicidade de todos os homens e mulheres no mundo, mostrando que sem a interferência da Loucura não seria possível a felicidade humana. Mas, antes de falar de sua importância, primeiramente, fala sobre a importância desse elogio e defesa partir dela mesma.
“De fato, que mais poderia convir à Loucura do que ser o arauto do próprio mérito e fazer ecoar por toda parte os seus próprios louvores? Quem poderá pintar-me com mais fidelidade do que eu mesma? Haverá, talvez, quem reconheça melhor em mim o que eu mesma não reconheço? (...) Não tens quem te elogie? Elogia-te a ti mesmo.” - página 15
 A Loucura começa a defesa e o elogio a si defendendo que a melhor pessoa para dizer sobre quem é só poderá ser ela mesma. Quem conhece você melhor que você mesmo? Haverá pessoas que dirão Deus, mas Deus não se importa em falar conosco sobre nós mesmos através de um discurso que torna legítimo seu conhecimento, desse modo, ele nos é inútil para falar sobre nós. Assim, essa afirmação na página 15 mostra uma ligação importante em que o mais verdadeiro avaliador que se pode ter de um sujeito é o próprio sujeito. Logo, o autoconhecimento é o conhecimento verdadeiro, descartando a opinião alheia acerca de si.
Surge, então, a dúvida na cabeça de alguns que é "mas o que é a loucura?" e percebemos nessa pergunta que o ser que faz tal indagação busca uma definição que possa se organizar em sua mente de modo a facilitar o entendimento sobre aquilo que se define. Mas o que é definir?
“Com efeito, que é definir? É encerrar a ideia de uma coisa nos seus justos limites. E que é dividir? É separar uma coisa em suas diversas partes. Ora, nem uma nem outra me convém. Como poderia limitar-me, quando o meu poder se estende a todo o gênero humano? E, como poderia dividir-me, quando tudo concorre, em geral, para sustentar a minha divindade? Além disso, porque haveria de me pintar como sombra e imagem numa definição quando estou diante dos vossos olhos e me vedes em pessoa?” - página 16 - 17
Definir é limitar; é estabelecer limites que são pautados de acordo com a definição; é ajustar-se dentro de uma forma que caiba dentro de uma caixa. Qualquer definição significa limitar, colocar uma régua em que diz o que é e o que não pode ser. Fora desta régua nada cabe. Com efeito, encontramos no Google:
Definição da palavra definição - Google
Definir significa excluir possibilidades de ser, do que pode ou do que poderia. É um parâmetro de exclusão. Dividir significa repartir em fragmentos por razões que variará de acordo com quem faz e o porquê faz. É um modo de diminuir a importância da coisa em si, do próprio conceito. Por isso faz sentido se você perguntar a Deus o que Ele é e Ele responder “Sou o que Sou”. Do mesmo modo essa afirmativa vale para nossa personagem, a Loucura.
Feito a defesa a si e legitimando a sua posição de defender-se a Loucura passa a fazer as críticas ao modelo de mundo que vigora e os elogios a si, geralmente nessa ordem. Uma de suas críticas que chama atenção é através da seguinte citação:
"E porque, segundo o meu costume, não hei de vos falar mais livremente? Dizei-me, por favor: serão, talvez, a cabeça, a cara, o peito, as mãos, as orelhas, como partes do corpo reputadas honestas, que geram os deuses e os homens? Ora, meus senhores, eu acho que não: o instrumento propagador do gênero humano é aquela parte, tão deselegante e ridícula que não se lhe pode dizer o nome sem provocar o riso. Aquela, sim, é justamente aquela a fonte sagrada de onde provêm os deuses e os mortais." - página 24
Nesta citação percebemos que apesar de nossos órgãos reprodutores poderem ser considerados aquilo que temos de mais divino em nós, por ser símbolo de vida e consequentemente da divindade, ainda sim é tratado como algo vergonhoso e que deve ser escondido, sendo essa ação dotada de loucura, pois o que há de vergonhoso em suas partes excretoras e sexuais? Qual é o mal em mostrar tais partes? Por que são hostilizadas e são recebidas com risos quando expostas? Fica claro que a parte mais divina de qualquer ser humano seja seus órgãos sexuais reprodutores, pois toda fonte de energia, vitalidade, poder e criação provém desse ato que libera grande poder de prazer e satisfação! E é loucura acreditar nisto? Loucura é ver esta parte ser ridicularizada, escondida de forma como se fosse algo terrível, algo que muitas vezes é utilizado para fazer piadas sem humor algum. Isto não é obra da loucura? Ainda na mesma página é abordado sobre o matrimônio. Segundo a Loucura o casamento é associado a Irreflexão, uma das sequazes da Loucura. Quanto a loucura das mulheres passarem pelas dores de parto para conceber um filho, a ninfa Esquecimento ajuda no trabalho para que a mulher anseie por outro filho.
"Que seria esta vida, se é que de vida merece o nome, sem os prazeres da volúpia? Oh! Oh! Vós me aplaudis? Já vejo que não há aqui nenhum insensato que não possua esse sentimento." - página 25
Poderíamos chamar de vida se não houvesse prazer nela? Quem suportaria? Uma vida sem prazer poderia chamar-se vida? E o prazer está associado a algo sensato e racional? É algo exclusivo dos sábios? Que besteira! Vemos que os chamados sábios são aqueles que aparentam ser mais infelizes e acima de tudo se dizem mais felizes do que aqueles que parecem estar felizes. São loucos, sejam sábios ou sejam tolos; seja o prazer da volúpia seja o prazer no desprazer. Não há nada de sensato em tudo isso.

A Loucura com suas sacadas faz comparações que se encontram facilmente em situações cotidianas, abordando sobre as ações dos homens daquilo que é oferecido e do que realmente é dado de um para outro.
"Dizei-me por obséquio: um homem que odeia a si mesmo poderá, acaso, amar alguém? Um homem que discorda de si mesmo poderá, acaso, concordar com outro? Será capaz de inspirar alegria aos outros quem tem em si mesmo a aflição e o tédio? Só um louco, mais louco ainda do que a própria Loucura, admitireis que possa sustentar a afirmativa de tal opinião." - página 45
Nunca é possível dar o que não se tem. Da mesma forma não é possível criar o que a mente não convém, não imagina. Não se pode criar o que não se pensa, nem se dar o que não se detém. As coisas se associam na medida em que se assemelham. Ainda defendendo seu posicionamento e dando como dica para que os homens também façam do mesmo modo, ela continua.
"(...) é necessário que cada qual lisonjeie e adule a si mesmo, fazendo a si mesmo uma boa coleção de elogios, em lugar de ambicionar os de outrem. Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em se querer ser o que se é. Ora, só o divino amor próprio pode conceder tamanho bem". - página 47
Pois sem o autoapreço não é possível reconhecer o que há de melhor em si, correndo o perigo de só ver os defeitos que apontam e que o próprio ser aponta em si. Não receberá amor do mundo se não se amar; não serás elogiado se não elogiar-se; não serás adulado se não adular.
Reconheço aqui que tenho que DAR algo a mais para a vida. Tudo aquilo que desejo receber, primeiramente, irei dar para que o ciclo volte a funcionar de normal para superior.
Falando do autoapreço e da própria adulação, o que falar sobre as qualidades dos homens, quanto mais dos sábios e daqueles que se consideram doutos? O que falar dos presunçosos?
"Que direis, senhores, se (..) vos provar que a mim também pertencem os que recebe a prudência? (..) eu desejaria saber qual dos dois merece mais ser honrado com o título de prudente: o sábio que, parte por modéstia, parte por medo, nada realiza, ou o louco, que nem o pudor, nem o perigo podem demover de qualquer empreendimento".

"O sábio absorve-se no estudo dos autores antigos; (...) Aproveita de sua leitura raros conceitos espirituosos, alguns pensamentos requintados, algumas simples puerilidades - eis todo o fruto de sua fadiga. O louco, ao contrário, tomando a iniciativa de tudo, arrostando todos os perigos, parece-me alcançar a verdadeira prudência".

"Duas coisas, sobretudo, impedem que o homem saiba ao certo o que deve fazer: uma é a vergonha, que cega a inteligência e arrefece a coragem; a outra é o medo, que, indicando o perigo, obriga a preferir a inércia à ação."

"Raro são os que sabem que, para fazer fortuna, é preciso não ter vergonha de nada e arriscar tudo". - página 55 - 56
O que é melhor: ser sábio ou ser louco? Quem é o mais prudente, o sábio ou louco? Em muitas filosofias se pregam a moderação como o maior bem e o excesso como algo muito ruim. Mas seria isto correto para toda a vida? Será que este também não é um caminho do meio, o de às vezes entregar-se ao excesso? Será que estar no caminho do meio constantemente não seria também um tipo de excesso, podendo considerar um vício? Muita prudência leva o ser a inação; muita loucura a uma grande decepção, podendo fazer encontrar a morte muito mais cedo do que haveria de vir. Pensar de mais e não agir implica em não viver; agir sem mesmo pensar poderá implicar em morrer. PODERÁ! Logo, é loucura dar ouvidos a alguém porque a maioria o ouve, do mesmo modo é loucura entregar-se ao excesso de ser um homem em constante equilíbrio, como também é muita loucura acreditar que devemos sempre arriscar. Uma vez ou outra deverá arriscar para saber qual é o julgamento atual dos Deuses, ou orar e confiar em Deus e deixar em suas mãos para que suas pulsões sejam justificadas pelo próprio Onipotente. De qualquer modo,  loucura está nas duas extremidades e também está no meio. Aceitá-la como sua amiga e ter mais fé na vida poderá arranjar grandes amigos, principalmente aqueles que precisa, como da própria Loucura. Que tenhas uma loucura sensata a ponto de ser guiado por seu coração e encontrar a paz, talvez até a salvação.

A Loucura considera a vida humana como um teatro em que cada homem desempenha um personagem que faz parte de uma grande peça. Uma grande ilusão que todos a vivem em comum acordo e que sabem que tais comportamentos podem atrapalhar aqueles que vislumbram o espetáculo (págino 58).

Falando sobre os feitos da Loucura, é notável seu orgulho por influenciar na felicidade e na falta de pudor dos velhos, mostrando que a velhice é uma maravilhosa dádiva que aqueles que a passam desfrutam dos prazeres da loucura (página 65).
"(...) Poderão dizer-me que é uma verdadeira infâmia a vida desses velhos e dessas velhas. Não o nego; mas, que importa isso aos meus loucos? Ou são inteiramente insensíveis à desonra, ou então, quando a sentem, sufocam facilmente o remorso. Os meus bons e fiéis  súditos têm uma filosofia especial, que lhes faz distinguir muito bem os males imaginários dos males reais. Cai-vos uma pedra na cabeça? Oh! isso sim, sim, é na realidade um mal! Mas, a desonra, a infâmia, as censuras, as maldições só nos fazem mal quando queremos sentir: desde que não pensemos nisso, deixam de ser um mal". - página 66
Por essa razão, maior parte dos sofrimentos sociais partem primeiramente da aceitação da opinião, interpretação da opinião como ofensa, consentimento da ofensa. Oras, isso não são mais do que palavras e olhares feios para fazer-te sentir mal? Isto não é mais um broxa querendo te broxar? Não seria mais um invejoso, como tantos por ai, querendo que você perca a alegria que ele almeja? Hipócrita! Deixar de viver sua loucura aproveitando dos prazeres que ela gentilmente lhe concede por não aceitação do outro, tem algo mais louco que isto?

E por falar dos loucos, sabe aqueles que são defensores da verdade? Aqueles que brigam e lutam pela defesa daquilo que é o verdadeiro e que deve ser seguido por todos, sabe?
“Só se costuma defender a verdade quando não se é atingido por ela; ora, só aos loucos os deuses concederam o privilégio de censurar e moralizar sem ofender a ninguém.” - página 78
E quem defende uma tese de mundo que lhe prejudica? Geralmente ao encontrar algo no mundo que lhe prejudique, costuma-se amaldiçoar tal coisa a ponto de tornar repugnante e nem ser enxergado como nada positivo. Não importa o que é ou não verdadeiro, mas aquilo que aceito como verdadeiro. Isso não é delírio?
Por que tanta preocupação com aquilo que é verdade, com os títulos e honrarias, com a reputação, com as riquezas e com tudo mais que lhe é passageiro a considerar sua vida curtíssima? Todos não irão perecer e se transformar em pó? Todos não deixaram de ser carne para virar um monte de ossos ou simplesmente poeira? Sobre as deixas fúnebres dos fidalgos ...
"Uma palavrinha acerca de uma espécie de doidos, porque seria um grande mal não os pôr igualmente em cena, quando honram tanto o meu império. Quero referir-me aos ricos que, vendo chegar o fim dos seus dias, providenciam grandiosos preparativos para uma passagem magnífica ao túmulo. É com grande prazer que se observa como esses moribundos se aplicam seriamente às suas pompas fúnebres." - página 93 - 94
Acreditam que conservarão algum grau de consciência para poderem gozar o espetáculo de sua morte!
Acreditam que tendo um velório memorável serão eternizados e adulados para todo o sempre!
Acreditam em sua própria vaidade como salvadora de sua vil existência. Tantos também acreditam em papai Noel e no Coelhinho da Páscoa!
"Poderá, talvez, parecer a alguém que eu esteja pregando impudentes mentiras. Quero, porém mostrar-vos que tudo isso é a pura verdade. Reflitamos um pouco sobre a vida humana, e se eu não vos demonstrar que sou a deusa à qual todos os homens são mais gratos e que eles mais estimam, desde o cetro ao bastão do pastor, acima de todas as coisas, estou disposta a deixar de ser a Loucura. Não quero contudo, dar-me ao trabalho de percorrer todas as condições, poias demasiado longa seria a carreira. Limitar-me-ei, assim, a indicar as principais, das quais facilmente se poderá inferir o resto." - página 108
É visto que sem a loucura não seríamos seres capazes de gozar da felicidade, visto que só a falta do discernimento padronizado pelo discernimento promovido pela loucura é capaz de proporcionar prazeres, volúpias, gozo e satisfação. No que haverá maior felicidade em se contentar com uma mulher bela unicamente a si do que ter uma mulher que seja bonita a todos, mas que não lhe proporciona prazer? Do que lhe valeria ter todo ouro e todas as joias se não as reconhecesse como tal e se permitisse enganar pensado que elas são falsas ou que valor nenhum elas tem? A loucura permitirá tanto a alegria quanto o sofrimento, mas, se a depender de um julgamento, este será o único fator decisório em si que lhe conduzirá a alegria ou a tristeza.
Mas, convenhamos que essa coisa de felicidade (ideia velha, segundo Abu) é algo que cai no subjetivo (talvez por isso seja velha) e que quando discutido isso em público aparece as metafísicas para darem conta daquilo que deve ser universal e bom para todos. Então aparece os doutos da fé e do conhecimento universal que lhe fala sobre o gozo eterno ao lado de Deus. Dai o perigo em falar dos teólogos ...
“Talvez fosse melhor não falar dos teólogos, tão delicada é essa matéria e tão grande é o perigo de tocar em semelhante corda. Esses intérpretes das coisas divinas estão sempre prontos a acender-se como a pólvora, têm um olhar terrivelmente severo e, numa palavra, são inimigos muito perigosos. Se acaso incorreis na sua indignação, lançam-se contra vós como ursos furibundos, mordem-vos e não vos largam senão depois de vos terem obrigado a fazer a vossa palinódia com uma série infinita de conclusões; mas, se recusais retratar-vos, condenam-vos logo como hereges.” - página 124
Pois ou você concorda com aquilo que dizem ou torna-se uma discussão infinita que acusar seus argumentos de inconsistentes será arremetido da pergunta “Você não crê na palavra sagrada?” e se usar como um meio inadequado de debate é acusado de herege, descrente ou qualquer coisa associado a tal.

No início da página 108 até 167 é onde há um constante apedrejamento das relações de fé existentes na época, dotado de muitas sátiras e ironias bem ácidas para aquele tempo. Mas o discurso da Loucura não fica apenas fazendo pilhérias a respeito da fé ou dos costumes que são seguidos na época, pois em especial é dito sobre a relação humilde de Deus com os homens.
“(...) o Senhor do universo só costumava conversar com os meninos, as mulheres e os pescadores. Também Jesus Cristo preferia, entre tantas espécies de animais, os que mais se afastavam da sagacidade da raposa: escolheu um burrinho para o seu carro de triunfo, quando teria podido cavalgar um soberbo leão. O Espírito Santo desceu sobre  a segunda pessoa da Santíssima Trindade, não em forma de águia ou de gavião, mas de pomba, que é o mais simples dos pássaros.” - página 184 - 185
Isso mostra que mesmo que Deus tenha poder ilimitado para fazer as mais luxuriosas aparições, ainda sim, escolhe das mais simples e das mais singelas, vulgarmente chamado de humildade. Creio, que inspirado pelo humor da Loucura, Deus tome tais ações por ser zombeteiro, piadista e de humor refinado, fazendo pilhéria de sua própria graça e sendo irônico em relação àqueles que julgam suas representações, fazendo ofensas quanto sua onipotência. Deus é sagaz, é irônico e de onde mais poderia vir o humor, algo divino, se não do próprio Deus?

A partir da página 185 é feito as conclusões acerca de seu discurso, das quais eu resumo da seguinte maneira:
  1. os homens são malucos, inclusive os representantes de Deus;
  2. Jesus juntou homens tolos para fazer seu apostolado e recomendou que segui-se a loucura ao invés da sabedoria, mostrando que segui-se o exemplo dos animais em natureza, que nada precisavam, pois tudo era provido;
  3. Deus proibiu que Adão e Eva comece da árvore do conhecimento, da sabedoria, da ciência do bem e do mau, sob pena de sua desgraça e morte, pois a ciência é o veneno da felicidade;
  4. a misericórdia vem por intermédio da loucura;
  5. todos os erros e pecados eram clamados por absolvição com o argumento de sua tolice, de sua falta de discernimento, de seu estado de loucura;
  6. “A religião cristã se coaduna perfeitamente com a loucura e não tem a menor relação com a sabedoria”. - página 188
  7. Os cristãos são os maiores exemplos de loucos no mundo da vida - página 189


CONCLUSÃO

A obra é extensa, principalmente por falar muito sobre a natureza humana através dos olhos da Loucura. Nos recortes da obra e nas reflexões acerca desses recortes não foi focado especificamente na crítica que Erasmo faz a hierarquia da Igreja Católica , mas dado maior importância sobre os comentários da Loucura a respeito das ações dos homens e daquilo que cotidianamente encontramos, que é atual. Creio que a obra faz uma excelente defesa à Loucura em relação a sua importância na vida humana, principalmente no que se refere aos casos de amor e paixões loucas que ocorre nas histórias. Mostra que o humor é algo proveniente dela, que sem a loucura não haveria humor, sem humor não haveria o riso, não haveria a risada, não haveria nada. Pelo menos nada daquilo que nos causa prazer, júbilo em ser o que somos: humanos.
É uma leitura interessante para poder rir, lembrar da importância da loucura na sua vida e poder refletir se não anda sério de mais. Não seja tão sisudo! A alegria é preenchida pela incompreensão, não há razão que a define, que a limite. Quando isso ocorre, ela logo escapa! Isso é verdadeiro quando percebemos que quando definida e entregue dentro de uma caixa para alguém, logo quando a caixa é aberta se depara com o nada. Razão que não há razão para definir alegria. Razão pela qual alegria não provém da razão. Razão a qual é deixado a encargo da loucura. A alegria, felicidade, "coisas" que nem sabemos o que é, faz com que passemos o resto de nossa vida correndo atrás daquilo que sempre está nos escapando na medida em que a encontramos, definimos, limitamos.

LINKS

ROTERDDAM, E. Elogio da Loucura. Traduzido por Paulo M. Oliveira. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/erasmo.pdf>. Acessado em 13 de Junho de 2016, 21:46.
Elogio da Loucura, Wikipédia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Elogio_da_Loucura>. Acessado em 19 de Junho de 2016, 22:15.
Erasmo de Roterdão, Wikipédia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Erasmo_de_Roterd%C3%A3o>. Acessado em 19 de Junho de 2016, 22:10.

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