27 junho 2016

RESENHA: Manual de Epicteto (Enchirídion)

Epictetus - Anton Raphael Mengs (1754 - 1756)


"Todas as coisas tem dois lados: um suportável e outro não suportável."

O Enchirídion, traduzido como manual, conhecido como Manual de Epicteto, é a coletânea de discursos feitos por Epicteto que foram anotados por seu aluno Arriano (Lúcio Flávio Arriano Xenofonte). Essas anotações que foram feitas em um pequeno caderno passou a ser um pequeno manual que contêm conselhos éticos Estoicos que auxiliam o indivíduo a agir da melhor maneira, conforme  Filosofia Estoica. É importante dizer que o Estoicismo foi uma escola de filosofia no período helenístico, mostrando que todo sofrimento está pautado no julgamento e que não há nada na natureza que seja mau em si mesmo, sendo o mau algo criado pelo julgamento errado a respeito da natureza. O Estoicismo voltava-se para as ações de um indivíduo, não para as palavras que este diz, assim, é uma filosofia orientada exclusivamente à prática. Sua referência se pauta na natureza e todo comportamento adequado está em harmonia com a natureza.

É muito interessante compreender os pontos básicos da Filosofia Estoica para ter um melhor aproveitamento do Enchirídion, pois este resume a Filosofia Estoica na visão de Arriano, ou mesmo de Epicteto. O manual é composto de 52 máximas que resumem o Estoicismo com conselhos práticos para o dia-a-dia. Cada máxima tratará de um assunto em específico, mas que se relacionam com outras máximas ao longo da leitura, não havendo necessariamente uma ordem, mas, é certo que todas as máximas estão relacionadas com a primeira (I), que em resumo diz que todas as coisas que existem no mundo são classificadas em duas ordens: as que são seus encargos e as que não são seus encargos. Partindo dessa premissa o manual aborda que há coisas que são sua responsabilidade, que lhe cabe uma escolha e uma ação e há outras que não lhe cabe escolha e nem ação, assim como também não lhe cabe julgamento. Partindo dessa proposição todo o manual é constituído.

Bom, de todo modo, para ter aproveitado melhor a compreensão dessa obra, resolvi reescrever as máximas com base no meu entendimento o que compreendi a respeito de cada máxima, buscando esclarecer a mim mesmo o que Epicteto queria dizer com cada discurso.


I -  Existem coisas que são encargos nossos e outras que não são. Ou seja, existem coisas que temos a possibilidade de escolher, de deliberar conforme nossa vontade, em suma, que depende de uma escolha que parte de nós; existem outras que não dependem de nossa vontade, de nossas escolhas, que não dependem em nada do que decidimos que seja. Desse modo, as coisas que são nossos encargos tem em si mesma a liberdade natural, assim, são livres, deliberam conforme desejam; as coisas que não são nossos encargos, coisas externas a nossa vontade, fora de seu poder de decidir ou de escolher como deseja ser, que não dependem de nós, são propriamente escravas, desprovidos de liberdade, dependem de uma vontade que está fora de você e que não compete a você nem mesmo saber de onde elas provém. Assim, existe o poder de escolha naquilo que é natural e inerente a você: seu julgamento, sua opinião, sua visão. Fora disso, o que acontece com seu corpo, o que acontece com seus familiares, o que acontece com sua vida como um todo em nada depende de sua escolha, nada é seu encargo, assim, não havendo liberdade para escolher qualquer julgamento se quer.
As coisas externas simplesmente acontecem, queira nós ou não. Deve-se saber que todo julgamento que se tem por tais acontecimentos são representações daquilo que é escolhido. Dessa forma, o que acontece no mundo da vida não é escolha, é somente acontecimento; o sentimento que se tem em relação a tal acontecimento mundano é apenas representação, escolha interna para representar aquilo que se vê no mundo. Por isso, os sentimentos, os desejos, os pensamentos, as opiniões são escolhas que estão em nosso poder de liberdade. As coisas que efetivamente acontecem não.

II - O propósito do desejo é obter aquilo que se deseja. Ou seja, sua finalidade é que o real se converta em sua representação mental, atingindo o objetivo do desejo, e assim, finalizando-o. O propósito da repulsa é de não se deparar com aquilo que se evita. A repulsa é um desejo que existirá para sempre, enquanto a existência daquele que a tem, pois, enquanto ela consiste no desencontro daquilo que se repudia, enquanto ela existe na possibilidade de não encontrar aquilo que se repudia, sempre existirá.
Por isso o desejo não saciado cria o não afortunado, enquanto a repulsa não evitada cria o desafortunado.
O que difere entre os dois? O primeiro terá a possibilidade de findar seu desejo, encerrando-o quando este for atingido; não se deseja mais aquilo que se alcançou. Este então possui a chance de satisfação, de plenitude. O segundo, aquele que detém o sentimento de repulsa, viverá até o seu fim com tal sentimento, pois enquanto esse sentimento existe na possibilidade de não encontro, assim será enquanto tal sentimento existir, não havendo a possibilidade de findá-lo, de satisfazer-se. Por isso é tolice sentir repulsa por encargos que não são nossos, sendo pior até mesmo que desejar aquilo que não nos cabe.
Assim, é prudente rejeitar, sentir repulsa, somente por aquilo que é contrário à natureza. Se rejeitar, repudiar acontecimentos como a morte, a pobreza, o abandono, o sofrimento e quaisquer outras coisas que são naturais estará fadado a ser desafortunado, infeliz, sem paz. Por isso, se em algum momento você ter o sentimento de repulsa por algo externo à você, retire este sentimento por qualquer coisas que não seja seu encargo e transfira esse sentimento para as coisas que são seus encargos e que são contrárias à natureza, como o julgamento de “como as coisas devem ser”.
Quanto ao desejo é melhor suspender todos os desejos, pois se caso deseja algo que não é de sua deliberação, de seu encargo, estará necessariamente não sendo afortunado, deixando escapar a chance de ser feliz com aquilo que está sobre o seu controle.
Fazer uso medido dos atos impulso e refreamento, com reserva (que não venha a público suas escolhas) e que não se sinta constrangido, imoral, enfim, que não julgue a si por seus impulsos e refreamentos, pois aquilo que foi deliberado já foi.

III - Saiba das coisas que lhe agrada, que lhe seduz, que lhe dá júbilo; saiba de que qualidade essas coisas são; saiba porque razão, por qual qualidade, essas coisas lhe causam o que te causam; saiba como essas coisas lhe afetam e por qual qualidade (ou através de qual sentido) elas te agradam.
Faça isso partindo das menores coisas para as maiores, das coisas mais simples para as mais complexas, do pouco para o muito, do menos importante para o mais importante; como se estivesse subindo uma escada rumo ao entendimento de seu próprio ser. Entendo as mais simples será necessário para compreender as mais complexas, como alguém que monta um quebra-cabeças. É importante entender o que lhe trás cada qualidade para entender o porque age como age, pois entendendo as sensações que seu corpo e sua mente tem o fará entender o porque age do modo como age. Lembre-se tudo o que sente mentalmente, algo que está sobre seu encargo, é característico do julgamento, que é seu encargo. Assim, tudo é interpretado e não há nada que seja inerentemente bom ou ruim que não passe primeiro pelo julgamento de sua mente.

IV - Toda ação que tomar, tudo o que decidir fazer é importante saber o porque se faz; é importante lembrar da razão que conduz tal ação; é importante lembrar de qualidade tal ação é. Assim, considere tudo o que decorre tal ação, considere suas consequências e ao que está sujeito no momento em que delibera a ação. Saibas que o que importa no fim é a qualidade e o propósito a que se destina tal ação, sendo que qualquer outra coisa que decorrer além disso não lhe cabe, não é seu encargo. Dessa forma, uma ação tem um fim e será uma boa ação se atingir este fim, pois fora disso, não é seu encargo, não é deliberado por sua vontade.

V - Todo sofrimento é decorrente do julgamento de sofrer, da opinião de que está sofrendo, enfim, as inquietações são sempre originárias das opiniões, ou seja, daquilo que está sobre o seu encargo. Por isso, a morte não é em si terrível, mas o medo e a opinião que se tem sobre ela. Só somos afligidos por nossa opinião, e se for afligido por opinião de outrem é por permitires isso, fazendo da opinião do outro a sua própria, assim, voltando a ser seu encargo. Aqueles que não tem conhecimento, educação, que não tem entendimento, discernimento, acusam e culpam os outros por coisas que eles próprios fazem erroneamente. Aqueles que começaram a estudar, a se educarem, que estão procurando o entendimento, buscando o discernimento, acusam e culpam a si mesmos por seus atos errôneos. Aqueles que já detêm o conhecimento, que já se educaram, que têm entendimento, que possuem o discernimento, não acusam nem aos outros e nem a si mesmos - não culpam a nada, não julgam nem criminalizam quaisquer ação.

VI - Nunca seja tolo o suficiente para se gabar de qualidades que não são as suas. Nunca se permita ser um pateta ao se exaltar por vantagens que não são as suas. Ao se gabar por ter um belo carro, um ótimo emprego, usar belas roupas, não se esqueça que as qualidades que se gaba não são suas, mas dos objetos aos quais se diz possuidor. Assim, o que é necessariamente teu é a representação que faz daquilo que diz deter, pois saiba que nada detém que esteja fora de seu encargo e que possa ser transformado de modo a não ter mais. Por isso, abstenha-se com aquilo que é seu encargo e não exterior à você. Ao tentar exaltar-se por qualidades de outros objetos parecerá um tolo soberbo que definha em ser menor aquilo mesmo que exalta, pois como pode um homem ser menos que aquilo que construiu? Aqueles que se admiram com tamanha tolice são igualmente tolos, pior aquele que se envaidece por aquilo que não tem que é admirado, pois sua condição perdurará mais tempo por sua vaidade estar sendo suprida naquele momento.

VII - A vida é uma viagem marítima, o navio é seu corpo em deslocamento para seu objetivo, uma conchinha e um peixinho pelo caminho são encontros que temos com elementos que compõem a viagem, mas não esqueça que eles em si não são a viagem (ou a vida). Seu pensamento deve estar fixo em você, em seu corpo (navio) e sua mente (capitão). O piloto é a sua vontade que conduz o navio junto com o capitão. Cuide de seu navio, quando o capitão chamar-te a atenção para o navio abandone tudo e siga as ordens do capitão, pois não desejará ser lançado ao mar e não quererá ficar para trás quando o piloto prontamente decidir seguir viagem.

VIII - Para que sua vida tenha um curso sereno, em paz, busque alinhar seu desejo em relação aos acontecimentos com o que efetivamente acontece na vida, ou seja, busque alinhar o que está sobre seu encargo com aquilo que não está sobre seu encargo, buscando assim um equilíbrio. Entender os acontecimentos como algo que simplesmente acontecem e que estão a favor de sua vontade é fundamental para seguir em paz.

IX - As coisas que ocorrem na vida, os acontecimentos que causam algum tipo de impossibilidade são entraves apenas no que se diz respeito à elas, nunca às escolhas. Assim, a doença é entrave para o corpo, não para a escolha que se diz respeito a suas ações. Ter um braço amputado é entrave para a utilização daquele braço ou atividades relacionadas a ele, mas não é entrave para seu eu, para seu ser, nunca é entrave para o que você decide escolher naquele momento.

X - Todas as coisas que lhe ocorrem é para que descubra dentro de ti as qualidades que podem ser utilizadas nas situações que lhe ocorrem. Assim, das coisas que não são seus encargos e vem até você nunca são más ou ruins em si mesmas, mas, são aquilo que teu julgamento, aquilo que é teu encargo, decidir que são. Volte a atenção para você quando as coisas lhe ocorrer de forma a descobrir as capacidades que lhe servirão de bom grado naquele momento. Sempre é o seu próprio julgamento que definirá a representação e deste modo somente você poderá encontrar a qualidade, capacidade, habilidade para lidar com o que não é seu encargo.

XI - Não há nada no mundo da vida que seja necessariamente teu; não há nada no mundo que esteja sob o seu controle; não há nada exterior a tu que possuas ou controle. Desse modo, você nunca perde ou ganha nada; dessa forma, tudo lhe é restituído, restaurado, devolvido, transformado. Por isso, você nunca perde ou ganha um filho, nunca perde ou ganha uma esposa, um trabalho ou qualquer coisa que não lhe seja de seu encargo. Tudo acontece como só poderia acontecer, não depende de sua vontade. Assim, o mundo lhe é emprestado para que viva, atue e seja o que é! Nada lhe pertence, e se está sobre sua posse, poderá, e chegará o momento em que lhe será cobrado à devolver o que lhe tomou emprestado. Não se desanime a devolver aquilo que não lhe pertence, mas seja grato pela oportunidade de por um breve momento ter “lhe pertencido”.

XII - Para que progrida na vida é necessário priorizar sua paz e sua felicidade. De que adianta querer adiar algum tipo de sofrimento vivenciando outro diariamente? Por que evita o sofrimento da fome se estendendo diariamente no sofrimento da inutilidade? Prefere ser um inútil ao um mendigo? Prefere a dor da frustração à dor da imprevisibilidade? Sofre por antecipação? Que lhe adianta escolher o tipo de sofrimento que terá? Quer dizer que lhe perguntam: você prefere que eu te estupre com um cabo de enxada ou com um cabo de vassoura [Canal do Otário]. Ou então como no filme A Escolha de Sofia em que o soldado alemão lhe pergunta: qual de seus filhos prefere que morra? Se não escolher um eu matarei os dois!
Não há boas escolhas, mas ser diariamente estuprado por um cabo de vassoura ou todos os dias ver seu filho sofrendo (porque não se morre todo dia) é melhor que um sofrimento passageiro em busca da plena satisfação de paz e contentamento interior? A melhor escolha fica a seu encargo e será dita por sua consciência, mas o que acontece efetivamente não é seu encargo e não lhe cabe decidir.

XIII - Ainda falando de sue progresso e desenvolvimento é necessário que se conforme em parecer insensato, tolo, imbecil às coisas exteriores, em suma, que pareça um louco em frente ao mundo, em frente aos julgamentos da sociedade. Não seja presunçoso, não tenha a pretensão de parecer algo ao mundo, algo às pessoas, pois de nada surtirá o efeito para sua paz que se conserva em ti. Desconfie de você se os outros pensarem algo de ti! Se pensarem que tu é um bom pai, desconfia sobre sua qualidade de pai; se acharem que é um bom marido, desconfia sobre sua qualidade no matrimônio; se pensarem que é rico, desconfia sobre sua riqueza! Em suma, os  julgamentos exteriores são falsos em relação a seu interior, pois seus olhos são capazes de ver, mas apenas seu julgamento sobre você é o único capaz de ver. Saiba que quem se preocupa com o exterior não é capaz de ver o interior e quem enxerga o interior esquece de ver o exterior. Desse modo, quem cuida de um descuida de outro. Por isso, desconfie!

XIV - Seus desejos são a razão de seu sofrer ou de seu prazer, por isso, nunca deseje qualquer coisa que vá contra à natureza, pois dessa forma estará condenado ao sofrer. Se desejar que seus amados vivam para sempre estará condenado a sofrer no momento em que ver eles morrerem. Se deseja que ter seu emprego até o momento de se aposentar estará fadado a sofrer no momento em que for demitido. Se desejar qualquer coisa que não condiz com a natureza sofrerá no momento em que mostrar que o desejo é improvável, se não impossível. Assim, qualquer desejo que não esteja sobre seu encargo é tolice. Mas, os desejos que tens está sobre teu encargo escolher tê-los, de tal forma, que poderás desejar aquilo que parte de teu encargo, não falhando em seus desejos e evitando o sofrimento.
Pois se sua felicidade,  sua paz, se o seu prazer depende exclusivamente de fontes que não são seus encargos, então, você se tornará em um escravo, um escravo dependente da fonte da qual busca saciar-se; se a felicidade é provida na união familiar você se torna escravo da família, de modo que quando dissolvida você será infeliz; se sua paz é trazida pela segurança e estabilidade profissional você será escravo da profissão, sendo sua paz abalada no momento em que você não exercer mais a profissão; se você só é capaz de sentir prazer quando come chocolate você se torna escravo do chocolate, criando o sofrimento no momento em que desejar o chocolate e ele não existir para poder te suprir.
Assim, qualquer dependência externa à você, que não seja seu encargo, te transformará em escravo. Quando não há essas dependências externas, quando sua felicidade, sua paz e seu prazer são providos por você te transforma em senhor de si mesmo, assim, transforma-te em um ser livre.

XV - É importante que sempre tenha bons modos, um bom comportamento, finesa, para lidar com as mais variadas situações com seus semelhantes. Nunca desrespeite seu anfitrião para que lhe convide mais vezes. Mostre seus modos. Se lhe dirigi uma coxa de frango, tome como sua parte a coxa de frango. Se em um banquete se apressarem para comer a maior quantidade de alimentos e o mais rápido o quanto puderem, não siga o exemplo da falta de modos, pois não deseja a si a sentença que está na cabeça deles. Não projete seu desejo para que lhe falte o respeito, mas espere que lhe seja ofertado, que chegue a ti. Do mesmo modo que agiu respeitosamente com seu anfitrião e teve modos no banquete,  também o faça com seus familiares e em relação à tudo que lhe seja externo para que tenhas o respeito do mundo.

XVI - Caso veja alguém tomado pelo sofrimento, envolta em lamentação, lembre-se que o que oprime, o que lhe causa sofrimento, o que lhe faz lamentar é a opinião que este alguém tem sobre um determinado acontecimento. Por isso, lembre-se que o mau que ela vive está dentro dela, não havendo nada que você possa fazer para mudar isso. Porém, não hesite, não tarde em consolar com palavras, lamentar junto, oferecer sua solidariedade para com este alguém, mas tome cuidado para que não seja arrebatado à mesma opinião e não gemas de dor internamente como àquele que se lamenta.

XVII - Lembre-se que neste mundo você está como um ator e a vida é uma grande peça que não é dirigida por você. Você faz parte dessa grande peça, você interpreta vários personagens à mando daquele que dirige a peça. Dessa forma, como um ator profissional, não queira dirigir a peça enquanto já há um dirigente. Não queira mudar a peça por insatisfação com o seu papel. Abrace o seu papel, interprete-o da melhor forma que puder e esteja pronto para o próximo ato, para o próximo personagem que o dirigente precisar que você seja, pois assim será a fluidez da peça, com todos os personagens atuando como só podem ser e o diretor dirigindo a peça como só poderá ser dirigida. Se for para ser curta, ela será; se for para ser longa, então será longa; se o diretor estiver dirigindo uma comédia, será comédia; tragédia, drama, não importa, ela será como for o desejo do diretor enquanto a mim só cabe ser ator. Já que só a isso me cabe, que da melhor forma eu possa contribuir para que esta peça seja linda e apreciada por aqueles que assistem.

XVIII - Se lhe impuserem maus julgamentos, se atentarem contra sua imagem, se tentarem te ferir através de palavras, não se abale, não se permita arrebatar-se pelos julgamentos dados. Lembre-se que tudo o que lhe ocorre só é caracterizado como bom ou mau através de sua própria opinião, assim, aquilo que dizem sobre sua imagem não lhe ofende, pois, ou é mentira e não condiz com a realidade, ou é uma visão errônea dada por um julgamento negativo e exterior a seu próprio encargo, ou pode se ter algo para aproveitar do discurso de forma que enriqueça seu ser através da aprendizagem que se tem por tais episódios. Assim, nada é capaz de lhe ofender, de lhe atingir se você não permitir primeiramente que lhe atinjam, do contrário, só são julgamentos, opiniões que não lhe diz respeito.

XIX - Como exposto em XVIII, não há nada capaz de te afligir sem que você permita. Desse modo, você é capaz de ser invencível se o resultado da partida depender apenas de seu encargo. Por isso, a vitória consiste no julgamento que se tem a respeito do evento que ocorrera.  Nunca perderá uma só batalha se não se engajar em batalhas que não dependem de seus encargos.
Nunca se permita acreditar que o interior é aquilo que o exterior lhe mostra. Assim, as representações não são aquilo que possuem nos corações. Por isso, não se permita acreditar que um homem é feliz em função de suas honras, em função de seus títulos, de sua estima e de tudo aquilo que adorna seu exterior. Pois como já dito, a felicidade reside dentro do homem, não fora dele. Por mais prestígio que um rei possa ter não será suficiente para preencher o que dentro ele sente falta. Exterior não preenche interior, pois são opostos de modo que é possível o que se tenha no interior seja oposto do que se vê no exterior. Não se deixe enganar por seus olhos através de julgamentos que não compete a eles.

XX - Nunca se esqueça que as ofensas, as agressões e qualquer tipo de ignorância não é necessariamente providas de alguém, mas da opinião que esse tem. Assim, burro, insolente, tolo não é o sujeito em si, mas a opinião que ele tem é que é burra, insolente e tola. Dessa forma, quando é provocado através de uma ofensa não é o sujeito que te provoca, pois sua existência não lhe afeta, e também não é a opinião que lhe é proferida que lhe afeta, pois isto é exterior a você e pode nem mesmo condizer com o real, mas o que lhe afeta, o que faz sentir-se ofendido é o seu próprio julgamento em relação a esse acontecimento. Desse modo, a dor, o sofrimento e o que sente internamente é por seu julgamento, por sua própria opinião. Desse modo, não culpe a representação do sujeito ou da opinião dele, pois de nada mudará o seu julgamento, pelo contrário, reforçando ainda mais o julgamento que tem, fazendo sentir durante mais tempo e mais intensamente.
Assim, não se deixe abater por aquilo que lhe é exterior para que seja senhor de si, consequentemente, livre.

XXI - Lembre-se de tudo quanto males existem no mundo; não se esqueça de quantas desgraças estão à soltas no mundo; lembre-se de todos maus que podem lhe afligir, saiba de todos. Saiba de tudo o que pode te acontecer de mau para que não tenha pensamentos tolos a respeito de sua vida. Lembre-se que pode lhe ocorrer qualquer coisa ruim, sobre tudo, a pior, a morte, sem que não haja possibilidade alguma que caiba a seu encargo. Assim, ciente de tudo o que pode lhe ocorrer, não despreze a vida, não tenha pensamentos abjetos em relação a sua ou a qualquer outra existência terrena e também não tenha planos excessivamente terrenos, planos que tira sua vida de seu curso. Pondere, lembre-se que tudo  o que lhe está fora não lhe convém controlar.

XXII - Se gosta da filosofia se prepara para quando lhe ridicularizarem; prepara-se para quando rirem e zombar de você; prepara-se para ser humilhado em público. Pois lhe com desdém dirão “só porque leu um livro ou fez um curso se acha filósofo! Quem lhe disse que tu é filósofo?” também poderão dizer “ Que gravidade é esta no olhar? Que cara de sábio é essa? Se acha superior aos demais?”. Não seja arrogante, não pense que é douto por saber mais que alguns; não julgue pelo seu próprio crivo - não julgue. Agarra-se as melhores coisas que dizem sobre ti. Não se deixe abater por aquilo que dizem de você, pois se assim permitir, no fim eles rirão para sempre sobre aquilo que anteriormente te zombaram.

XXIII - Se em algum momento você voltar suas ações para agradar aquilo que te é alheio, aquilo que não lhe diz respeito; se em algum momento você tentar convencer a opinião de alguém sobre algo de você, tentar fazer que lhe enxerguem com bons olhos; se em algum momento você se volta para mudar o que te e exterior, então já perdeu seu rumo e é melhor ponderar a onde você está. Se desejar se exibir pelas qualidades que detém se contente em exibir-se para si mesmo, pois a expectativa do julgamento externo é tolice, pois não é seu encargo, e se deseja se exibir é para seu próprio agrado, logo, que faça isso só a você!

XXIV - Não se deixe abater por pensamentos que não lhe dizem respeito; não se deixe abater por pensamentos e coisas que lhe são exteriores; não se deixe abater pelas ideias de que só terá honra se deter um cargo público, ou ser dono de muitas poses, ou ser um ícone sexual, ou mesmo referência para qualquer coisa que lhe seja externa; não sei deixe abater por qualquer pensamento que lhe seja exterior e que não lhe diga respeito, que dependa exclusivamente de sue próprio encargo! Por que haveria de ser honrado apenas os homens que detém cargos públicos? Por que haveria ser considerado de sucesso apenas por haver poses sobre seu domínio naquele determinado instante em que é feito o julgamento de sucesso? Por que pensar que só será amado se for o mais desejado e cobiçado entre tantos outros? Não seria tudo isso delírio? Um amigo só é valoroso se é homem público? Um amigo só lhe é bom quando detém grandes patrimônios no momento em que há a relação de amizade? Um amigo só é boa companhia quando tem características desejáveis a seus próprios interesses? E a dignidade e a lealdade, não são valores bons valores? Não seriam ainda mais raros que todos os outros anteriormente citados? Lealdade e dignidade você não aprecia? Busque pelos valores que lhe são caros e cultivados por ações de seu próprio encargo, não se preocupe com aquilo que é passageiro e inseguro.

XXV - Lembre-se que no mundo da vida tudo há custo de matéria e energia parar transformar uma coisa em outra. Nas relações humanas também! Por isso, tudo aquilo que recebes é o valor daquilo que você dá, assim também vale para qualquer outro. Desse modo, se alguém receber mais que você é preciso que fique feliz em ver que aquele deu mais de si para adquirir; se alguém receber menos que você não se entristeça por aquilo que não lhe diz respeito. Do mesmo modo é importante em se alegrar com honras dos outros, mesmo que sejam maiores que as suas; também não se abata pelos infortúnios que não lhe diz respeito. Se alguém dá mais atenção a seu companheiro do que a você, é importante observar que de algum modo seu companheiro dá mais àquele que lhe retribuiu em relação a você. Assim, não há graça no mundo. Se tens mais afinidade com alguém é porque esse alguém de algum modo lhe retribui para que lhe dirija afinidade. Saiba que tudo é moeda de pagamento, tanto a gratidão quando o ouro. Saiba que para tudo há um preço. Se alguém lhe convida para um jantar é por se alegrar ou de algum modo se satisfazer com sua presença no jantar, se é que já não tenha lhe dado o que deseja e este esteja te retribuindo com tal cortesia. Lembre-se, tudo há um custo, nada é gratuito, só não fica explícito. Tua sabedoria provém de saber observar quais são as moedas usadas para pagar pelas ações e saber empregá-las de acordo com seus interesses. Por isso, repito, não se deixe abater pelo sucesso ou pela infelicidade de outrem, pois este só esta recebendo aquilo que lhe é devido.

XXVI - Para aprender o propósito da natureza, da vida, é necessário que observemos as ocorrências na vida alheia. Observando o que acontece com o outro é importante considerarmos que pode ocorrer conosco também. Preste atenção no julgamento que você dá em relação aos acontecimentos alheios. Quando ocorrerem com você, lembre-se de julgar da mesma forma como foi julgado com a ocorrência alheia. Assim, se quando morre a mulher do amigo e você pensa “a morte faz parte do ciclo da vida, não há o porque tamanho desespero” lembre-se que se ocorrer o mesmo com você é prudente que tenha o mesmo pensamento. Pois, porque quando ocorre a desgraça alheia faz parte da vida, mas quando ela ocorre com você é uma desgraça em si mesma? Por que só você haveria de ser especial e os outros que lhe são semelhantes não? Do mesmo que alguém muito rico possa ir a miséria em um único dia, isso também lhe é possível contigo, e dos dois modos, são ocorrências naturais, que fazem parte dos propósitos da natureza.

XXVII - Quando um cervo passa em frente de um leão ele deixa de ser cervo e passa a ser uma caça, um alimento vivo, um alvo; uma substância com propriedades tóxicas poderá ser um remédio para aflição de um enfermo ou um veneno para aquele que goza de boa saúde, mas continua a ser a mesma substância. Assim, não há nada que seja inerentemente algo bom ou mau, caça ou caçador; apenas o contexto é a causa definidora do que cada coisa é. Por isso, no Cosmos, no Universo, no julgamento divino, na natureza, não há nada que seja inerentemente mau, pois apenas ao que se aplica é capaz de atribuir um julgamento sobre isto.

XXVIII - Se alguém dá algo que lhe pertence sem teu consentimento você tenderá a se irritar. Se lhe prometem para alguém sem que tu consinta é provável que lhe traga frustração. Sempre que é entregue algo que lhe diz respeito ao outro sem que haja seu consentimento lhe causará algum tipo de mal, mesmo que este esteja fundado unicamente em sua opinião. Por que sempre o que é físico e é entregue ao mundo lhe irrita, mas o que é metafísico não? Por que quando seu corpo é entregue ao mundo isto lhe atinge, mas quando você mesmo entrega seus pensamentos aos outros isso não lhe atinge? Com seu corpo podem atingi-lo de várias maneiras físicas, com seu pensamento podem inquietá-lo e confundi-lo de modo a guiar seu corpo e sua mente. Nossos pensamentos dizem sobre quem nós somos, desse modo, fala sobre nossas qualidades e nossas imperfeições. Assim, porque você entrega seus pensamentos a qualquer um que apareça? Pois, não estaria você se entregando a quem nem conhece? Sabe das intenções alheias? Oferecer seus pensamentos sempre são um risco, mas correr estes riscos desnecessariamente é tolice.

XXIX - Para toda ação, todo empreendimento, tudo aquilo em for necessário você dispor de energia, tempo e dedicação, analise. Pense nas coisas que antecedem esta ação, o que levaram a querer empreendê-la. Depois pense nas coisas que sucedem a esta ação, assim, pense nas consequências desta ação, nos fins que levarão este empreendimento. Pense no que motiva a agir e na satisfação que terá ao atingir o objetivo por meio da ação. Saiba, primeiramente, no que estará se metendo ao empreender seu tempo, energia e dedicação. Depois de pensado em tudo isto, olhe para você e veja se sua natureza condiz com aquilo em que se propunha a atingir, observa se suas capacidades físicas são adequadas para determinado fim, se seu intelecto tem tamanha eficiência para se empreender em tamanha empreitada. Observe o que seu corpo e sua mente diz a respeito disso. Todos nascem distintos uns dos outros com variadas características que nos tornam aptos ou inaptos para umas ou outras atividades. Seria possível a um pássaro comer com talheres? Seria possível a um peixe ganhar uma maratona? Caberia um porco viajar pelos ares? Competiria a uma aranha carregar folhas como as formigas? Para cada ser a natureza determina características que lhe serão próprias para a sobrevivência e exercer aquilo que sua natureza lhe condiciona. No entanto, já viu algum desses animais largar mão de suas aptidões naturais e buscar se desenvolver em outras que sua natureza não lhe diz respeito? Já viu algum cachorro batendo asas e plainando no ar? Já encontrou alguma formiga que tenha cansado de carregar folhas e preferiu ir cantar como a cigarra? Tem encontrado algum coelho que prefira fazer sua moradia em lagos no lugar de tocas? Todos esses animais seguem sua natureza e não reclamam ou não abandonam aquilo que foram condicionados. Todos eles tem suas vantagens de acordo com suas capacidades e suas desvantagens também.
Ora, tudo mundo quer o melhor, quer prêmios, honrarias, festas, alegria e tudo o que a vida pode proporcionar de melhor. Mas se esquecem de olhar o percursor que foi tomado até se chegar no momento de desfruto. Por acaso é possível colher maçãs sem que a maçãzeira lhe de frutos? Ou seria possível colher maçãs em uma laranjeira? É preciso que colher os frutos na árvore certa, esperar que a planta cresça e se desenvolva, que floresça e dê seus frutos. Tudo há seu tempo, tudo há seu custo, sua dedicação, sua parcela de energia e de empreendimento. Depois que a árvore cresce e floresce o tempo para colheita dos frutos se torna menor em relação à primeira expectativa que se teve de querer colher. Assim também o é para toda a natureza. Saiba que não é possível ter uma boa árvore se estás a cuidar de outras dez árvores com outros dez tipos de variados frutos. Quem dá atenção a uma consequentemente descuida de outra. Assim o é para todas as coisas, como em toda natureza.

XXX - Geralmente as ações que tomamos para com o mundo são considerados convenientes ou inconvenientes de acordo com a relação que temos com o mundo. Assim, a qualidade dessas ações estará medida pela relação que temos, não importando a opinião que tenhamos sobre essa relação, pois, isso nos é externo, isso não é de nosso encargo, não nos cabe decidir. Você não tem poder suficiente para escolher o pai que terá, a mãe, o irmão, o chefe, o companheiro, o amigo, a mulher, enfim, você não escolhe quem estará presente em sua vida e o tipo de relação que terá com este, pois isto lhe é externo e só lhe cabe administrar as opiniões e ações que terá em relação a estas relações. A natureza não define que tenha um bom ou mau pai, uma boa ou má mãe, um bom ou mau chefe, no entanto, a natureza, a vida, só determina que você no momento os tenha, seja dos mais variados tipos, sejam eles bons ou maus, seja eles presentes ou não. Nada disso lhe cabe escolha. O que lhe cabe escolher é as ações que terá para com estes. O que lhe cabe são as opiniões e os julgamentos que decidirá em relação a estes. Por isso, faça o que lhe é devido para que tenha o que também lhe é devido. Busque entender no que consiste cada relação, o que tu deve a cada uma delas e sirva da melhor forma que for necessário para que usufrua de relações convenientes. Não se abstenha de seu dever por razão do que lhe é exterior não lhe dar aquilo que pensa que lhe é devido, pois a frustração nesse caso está fundado em sua opinião sobre o que deve ou não ser lhe devido diante desta relação. Saiba que aquilo com o que você paga será aquilo te pagarão, não havendo uma relação de tempo determinada para que você possa observar tais acontecimentos, pois isso também lhe é exterior, não lhe cabe tal encargo.

XXXI - Retira os valores bem e mal dos acontecimentos mundanos, daquilo que não lhe é seu encargo. Esqueça que o mundo, os deuses e as pessoas possuem o dever de fazer o bem naquilo que lhes compete, pois nada acontece se não for da vontade dos deuses e tudo o que acontece nunca é um erro e também nunca é em si mal, pois os deuses não erram em seus julgamentos e não permitem que nada aconteça que não seja de vossa vontade, desse modo, tudo o que ocorre no mundo é necessário e só é como só poderia ser. Por isso, os valores relativos que sejam empregados apenas às ações que lhe competem, que são seus encargos, pois do contrário, estará tendo um julgamento inequívoco a respeito dos deuses, da vida e tudo o que compõem a existência. Dessa forma nada lhe abalará, pois saibas que nada que lhe é externo pode lhe causar dano, mas apenas seu próprio julgamento pode lhe ferir, lhe causar sofrimento. Em suma, não importe-se com nada que ocorre no mundo que, pois deve-se lembrar que não são seus encargos, logo, não são seus méritos e também não lhe afetam. Por isso, tudo o que sente está pautado naquilo que decide sentir e naquilo que julga para si, dessa forma, o que importa deliberar escolha sempre compete a sua opinião, decidindo assim o que passará. Então nunca insulte os deuses, a vida, o comerciante, àqueles que sofrem alguma perda independentemente de vossos encargos,  nunca sinta piedade, pena, dó, pois o que ocorre no mundo só pode ocorrer da forma como só poderia ser. Independente disso, não abandone o dever que sua consciência lhe impõem diante dos fatos mundanos, pois, apesar de se privar de sentir sentimentos que lhe bloqueiam a ação ou que lhe causam sofrimento, seu interior, aquilo que lhe compete como seu encargo, lhe apontará seu dever e, se assim for, cumpra-o sem esperar por nenhum resultado dessa ação a não ser a própria ação.

XXXII - Quando lhe ocorrer de ir buscar por adivinhos, oráculos e outros que estejam relacionados a arte da premonição e do contato com o sobrenatural não temas o que está a ver e ouvir. Lembre-se que estará consultando aquilo que nenhuma outra razão ou outro meio disponibiliza saber. Por isso, não temas o que estará por vir, pois não é desejável estar tremendo de medo e ansiedade na frente daquele que fará a adivinhação. Você está lá para saber de que qualidade os acontecimentos previstos irão lhe influenciar, sabendo a priori o que você, dentro de seu encargo, pode realizar para transformar a situação em um enriquecimento pessoal, pois saiba que o adivinho lhe dará uma interpretação daquilo que vê, sendo a qualidade influenciada por seus próprios valores, assim, discerne o que pode ser aproveitado e aquilo que não lhe diz respeito. Respeita o trabalho daquele que lhe oferece um serviço, pois você o procurou e se desdenhas daquilo que oferece mostra apenas sua falta de respeito e a baixa elevação de seu espírito. Esteja pronto para o que quer que ouça, para o que vier, não abandonando sua paz interior e o controle de si para que não faça das noticias um alarde e te rotulem de forma que não desejas. Até mesmo Sócrates julgava ter valor a consulta ao oráculo, não como um passatempo, mas como meio de examinar como um todo aquilo que se refere às consequências que estão por vir e por surgirem nos acontecimentos previstos. Cuide de seu corpo, mas cuide ainda mais de seus pensamentos para que possa cuidar de seu corpo.

XXXIII - Construa e fixe um caráter padrão a respeito de você que possa se resguardar em si ou mesmo apresentar aos outros. Tenha uma personalidade que lhe diz respeito e que não sinta-se mal quando se conservar em você e quando estiver em grupos. É importante que aprenda a conduzir a arte do silêncio, que use poucas palavras e que sempre tenham objetivos quando proliferadas, falando apenas o que é necessário. Se reserva no teu direito de manter silêncio e não dizer bobagens, falando do alheio e de coisas que são inconvenientes a elevação do espírito. Não é necessário falar dos filmes, das novelas, dos acontecimentos políticos, do que acontece na vida alheia. Se você não tem um objetivo com aquilo que fala, então não fale, se reserve. Ainda, não faça elogios ou críticas, enaltecendo ou desqualificando outras pessoas, comparando-as, julgando-as. Isso não é necessário e não lhe agrega em nada, mas, pelo contrário, lhe tira. Assim, conduz as suas conversas e as daqueles que estão contigo para o que é conveniente, ou, para o que lhe é conveniente. Mas, se você se encontrar em meio a estranhos se reserve no seu direito de permanecer em silêncio, só dizendo algo se for absolutamente necessário. Não dê risada de forma descontrolada e também não ria sobre tudo aquilo que lhe chega. Recusa todos os juramentos, ou pelo menos não os faça para que não perca sua credibilidade futuramente, pois aqueles que cumprem os juramentos fazem o seu dever, enquanto aqueles que o quebram são considerados canalhas e são lembrados por isso. Ninguém é lembrado por seu juramento cumprido, mas por seu juramento quebrado. Por isso, renuncie juramentos, ou, pelo menos, tome muito cuidado ao fazê-los, não sendo prudente fazer muitos juramentos. Quando aos convites que lhe fizerem para compartilhar um banquete, um momento sobre os auspícios daquele que te convida, tome cuidado a quais convites você aceita e se aceitar, mantém-se atento sobre seu comportamento para que jamais caia na vulgaridade. Lembre-se que tudo há um preço e você o paga no momento que aceita aquilo que lhe vendem, seja o preço acordado ou não. Cuide bem e atente-se daqueles que serão suas companhias, pois sabe-se que é mais comum o impuro corromper o puro ao invés do contrário. Desse modo, atente-se para estar sobre boas companhias para não seja corrompido por más companhias. Acolhe às coisas relativas ao corpo na medida da necessidade, fazendo uso apenas do que lhe é necessário. Cuidado com os excessos, com a ostentação ou com o luxo, com a gula e consequentemente com a falta de pudor, pois isso lhe aflige e da suporte para que concorde com os comentários negativos a respeito de você, fazendo o sofrimento surgir de sua opinião por influência daquilo que não lhe é teu encargo. Quanto aos prazeres sensuais, aqueles pertencentes a Afrodite, preserva-te o máximo até o casamento, mas caso esteja engajado neles,  tome-os conforme os costumes. Porém, não critique ou apoie aqueles que fazem uso desses prazeres e também não anuncie ao mundo que você mesmo não o faz.
Se disserem a você que alguém fez comentários maldosos a respeito de tu, não se ofenda e também não se defenda desses comentários, pois aquele que te acusa desconhece de seus outros defeitos, aliás, te  desconheces! O julgamento que dá diz respeito a opinião dele, nunca a sua, por isso, não se ofenda e também não se defenda.
Não é necessário ir frequentemente em espetáculos, mas caso surja a oportunidade de ir, não se preocupe com ninguém além de você. Ou seja, queira que as coisas aconteçam somente como as coisas acontecerem e que apenas vença o vencedor, não entrando em nenhuma saia justa.
Reserva-te por completo de gritar, rir de alguém ou se comover. Não teça muitos comentários a respeito do que se passou no espetáculo, pois isso não melhora a você mesmo. Caso vá as palestras dos outros mantenha um caráter reverente, equilibrado e cordial. Caso vá se encontrar com alguém, principalmente alguém que notável relevância, pergunta a você mesmo o que faria Sócrates ou Zenão, ou então, pergunta-te o que um sábio faria em tais circunstâncias, pois assim não lhe faltará meios para agir da melhor forma.
Quando ocorrer de ir encontrar alguém de um grupo de poderosos, considera a possibilidade de não encontrá-lo; a possibilidade de ser impedido de entrar em contato com este; a possibilidade de ser desprezado por aquele que procura. Se mesmo depois de ponderar sobre isto acha conveniente ir, vá. Porém, suporta todos os acontecimentos sem jamais dizer a você mesmo “Isso não vale tanto”. Saiba que permitir que seus pensamentos sejam orientados por aquilo que é externo é coisa de homem comum.
Em conversas com os outros, não fique lembrando e relembrando desmedidamente as tuas ações e as aventuras perigosas e excitantes pelas quais passou, pois não é tão prazeroso para os outros ouvir esses acontecimentos quanto é para você relembrar estes acontecimentos.
Desista da ideia de querer provocar risadas, pois a boa risada vem naturalmente de uma situação naturalmente cômica, do contrário, esta atitude resvala na vulgaridade, no desrespeito, fazendo com que seus próximos percam o respeito por você.
Iniciar ou insinuar conversas vergonhas é perigoso. Se isso ocorrer e a ocasião for propícia, repreende quem toma tal comportamento. Se a ocasião não for propícia para a repreensão, demonstra através do silêncio e um rubor sombrio que está descontente com a conversa.

XXXIV - Preste muita atenção nas coisas que lhe é exterior e que lhe representa algum prazer. Se atente a tal representação de prazer antes de desfrutá-la. Reserve um tempo para você refletir a respeito de tal representação, não permitindo ser arrebatado por ela. Reflita sobre o momento em que desfrutará o prazer e tudo aquilo que participará no momento de desfruto. Depois, reflita sobre o momento posterior ao desfruto do prazer, as consequências que estão contidas após o desfruto, seu julgamento a respeito de você por ter aproveitado tal prazer, a critica que fará a si. Compara os dois momentos, o momento do desfruto do prazer com o momento das consequências desse prazer. Agora, compare com esses dois últimos momentos o quanto você se alegrará e elogiará a si mesmo por não desfrutar esse prazer. Lembre-se que o prazer fornecido pela representação nunca é maior que suas virtudes, que suas qualidades inerentes; que esta representação nunca te vença! Se a ocasião se mostrar propícia para desfrutar do prazer, tome cuidado para que as consequências não sejam maiores que o desfruto de tal prazer, confia em teu julgamento e compara todos seus raciocínios para ter a ciência da obtenção da vitória de você em cima da representação.

XXXV - Se em teus pensamentos discernir que deve fazer algo, faça! Confia em seu julgamento e se guie por ele, nunca se arrependendo disso. Nunca se envergonhe de suas ações e jamais evite que os outros vejam você fazendo-a, mesmo que a maioria suponha algo diferente sobre a ação ou que tenha pensamentos negativos a respeito dessa ação. Pois, se age corretamente, se age conforme seu próprio entendimento, por que temer os que te repreendem incorretamente? Por que se importar com aquilo que não lhe diz respeito e não é seu encargo? Faça o que deve ser feito sem nunca se envergonhar disso!

XXXVI - Saiba identificar os valores daquilo que lhe é bom e daquilo que é bom para o outro; saiba que por vezes poderá ter aquilo que lhe é bom em algo e não em outro; te valoriza em algo e te desvaloriza em outro. Também, por vezes, há coisas que é bom para o outro em algo e não em outro. Por vezes, há coisas que é bom para o outro lhe convém justamente por ser bom para o outro. Saiba observar atentamente essas coisas e identificar os valores que nelas estão contidos. Uma janta desfrutada na casa do amigo, ainda mais quando é um prato exótico e delicioso, poderá lhe ser muito bom desfrutar grandes quantidades de alimento para saciar sua fome, seu apetite, seu prazer de desfrutar algo diferente e saboroso. Mas, se isso não for medido poderá faltar o respeito com seu anfitrião, por vezes perdendo a possibilidade de jantares futuros e possivelmente até a perca da amizade ou da possibilidade de fazer outros contatos interessantes. Por isso, que não use uma única medida para medir seu comportamento e suas ações; que saiba identificar os valores para respeitá-los como só poderá ser; que saiba respeitar o alheio em para que possa respeitar a si mesmo.

XXXVII - Não aceite cargos, papéis, responsabilidades que competem uma capacidade maior daquilo que você detém. Isso fará com que perca a compostura e também o fará  deixar de desempenhar uma atividade que você possivelmente desempenha bem. Isso decorrerá uma cadeia negativa, possibilitando que você passe a considerar sua falta de capacidade naquela atividade como uma falta de capacidade generalizada. Por isso, tome cuidado! Aceite apenas aquilo que compete a seu encargo exercer bem e que sabes ter capacidade para desempenhar bem.
XXXVIII - Do mesmo modo que você toma cuidado com seu corpo é importante que você também tome cuidado de sua mente. Você se cuida para que não seja atropelado quando vai atravessar a rua? Pois também cuide-se para que opiniões e ideias não convenientes causem danos à tua faculdade diretriz, a teu caráter. Guarde isto atentamente e passará a empreender as ações com mais segurança.

XXXIX - Saiba que o corpo é a medida das posses de cada um, assim como o pé é a medida do sapato, como as coxas é a medida das calças, a cabeça a medida do chapéu, entre outras coisas. Dessa forma, fixe nesta ideia, neste raciocínio, para que que guardes a medida de suas ações. Tome cuidado para que não ultrapasse a medida, pois necessariamente caíras num abismo, pois não saberá a distância de seu passo. Se perderes o limite, perderás sua direção e consequentemente perderás de si mesmo.

XL - As mulheres, logo após completarem seus 14 anos, são chamadas de senhoras pelos homens, ou seja, consideradas mulheres prontas para a relação matrimonial. Vendo que nada lhes cabem, além de se deitarem com estes [lembre-se que é Grécia Antiga!], começam a se embelezar e cuidarem de sua vaidade, depositando todas as suas esperanças nisto. É importante que cuidemos para que estas percebam que não são honradas por nenhuma outra coisa além de sua disciplina e sua dignidade.

XLI - Cuidar unicamente do corpo é um sinal de incapacidade. Ocupar-se unicamente com malhação, comilança, beber demais, cagar pra carai e trepar a todo momento é um claro sinal de incapacidade mental e espiritual [mas é bom]. Deixe essas coisas como algo secundário, pois o mais importante é que sua atenção esteja voltada para seu pensamento, aquilo que mais diz respeito sobre você.

XLII - Jamais se deixe afligir por um insulto ou mesmo não se permita abalar quando alguém lhe tratar mal ou falar mal de ti. Lembre-se que este alguém age ou fala de tal modo apenas com uma intenção que está contida naquele que professa tal opinião. Por isso, não lhe diz respeito e não deve deixar que isso lhe cause dano, pois se lhe causar, é por permitir e consentir com tal ofensa. Tal como um chapéu cabe bem na cabeça de uns e de outros não, assim também um insulto poderá servir a alguém e não a outros. A decisão de usar um chapéu é sempre daquele que o tem, mesmo que este lhe sirva ou não. Do mesmo modo a decisão de acatar uma opinião como verdadeira, mesmo que esta não seja, está no encargo daquele que detém a opinião. Se lhe é dado tal opinião, aceitas se assim lhe convir. Se não, poderás dizer “Assim lhe parece”, pois a mais ninguém serve. Se lhe é falso, ignora; se não te serve, não faças uso. Por que haveria de se irritar com aquilo que é falso? Por que haveria de dar importância para aquilo que nem mesmo é real? Por que se importar com aquilo que lhe é externo, ou seja,  a opinião exterior a você? Foca-se em tu, aproveita do exterior o que lhe é conveniente, não se abale por aquilo que não lhe diz respeito.

XLIII - Lembre-se que tudo há dois pesos, duas medidas, dois lados, dois valores. Sempre um será suportável enquanto o outro não. Por exemplo, tens um irmão que é injusto para com você, ou seja, qualidade ruim daquilo que é não suportável. Mas, por outro lado, é teu irmão, foram criados juntos e convém dos mesmos laços. Toma-o por aquilo que é suportável, assim será virtuoso. Lembre-se que todas as coisas são no mundo exterior são sempre de duas qualidades, saiba identificá-las e não se arrependa daquilo que tomar para si.

XLIV - Tome cuidado com os argumentos inconsistentes para que não tenha julgamentos injustos, tais como “Eu sou mais rico que você, logo sou superior a você”; “Eu sou mais eloquente que você, logo sou melhor que você”, pois são argumentos inconsistentes e que não te leva a bons julgamentos. Pois a consistência para as firmações anteriores é “Eu sou mais rico que você, logo minhas posses são maiores que as suas”; “Eu sou mais eloquente que você, logo a minha eloquência é maior que a sua”, pois lembre-se que ninguém é as posses que tem, nem as qualidades que detém, pois isso são coisas, diferente de um ser.

XLV - Se alguém toma banho apressado não diga que este alguém se banha mal, mas que se banha apressado. Se alguém bebe muito não digas que este bebe se moderação, mas que bebe muito. Pois antes de discernir a respeito da opinião dele, como sabes que ele age de modo ruim? Tome cuidado ao perceber determinadas representações e dar significados a elas que diz respeito à outras significações. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra.

XLVI - Nunca se declare filósofo, nem também digas sobre princípios filosóficos, mas aja como um filósofo e tome ações que dizem respeito aos princípios filosóficos. Não queira discursar e mostrar que você é algo, mas seja aquilo que pretendeste discursar e mostrar. Não se contente em mostrar aquilo que acredita ser, mas seja aquilo que acredita que é. Não digas como é a maneira adequada de se comer, mas coma de maneira adequada. Não critique e digas  qual a melhor maneira de se vestir, mas vista-se da melhor maneira que diz respeito a teus preceitos. “Aquilo que precisa ser demonstrado não tem valor, pois o que tem valor tem em si próprio, é o valor em si!”. Se vier uma discussão a respeito de um princípio filosófico, silencia-se, pois o perigo de vomitar aquilo que não foi digerido é grande. Da mesma maneira que as ovelhas não mostram o quanto comeram, mas trazem a lã e o leite, que são frutos da digestão daquilo que se alimentaram, também tu não mostre os princípios filosóficos através das palavras, mas mostre suas ações que são o resultado da digestão de seus conhecimentos filosóficos. Seja os princípios ao invés de dizê-los.

XLVII - Quando tiver aprendido e se adaptado ao modo simples de viver, sem grandes necessidades de consumo, não se gabes disso e também não faça com que os outros saibam, pois não lhe convém e não é necessário. Não é preciso mostrar a qualidade, pois se existente ela for aparecerá naturalmente. Se em algum momento decidires exercitar-se para uma tarefa árdua, difícil, faça isso para você e não para os outros. Que apenas você saiba daquilo que passa, não precisando que os outros tomem ciência de sua situação. Quanto a teus treinamentos reserve-os para tu, não precisando fazer alarde sobre eles. Se num momento de seu treinamento fraquejar, supere a fraqueza e continue até atingir seu objetivo, não desistindo e também não contando a ninguém aquilo que se passa a respeito de seu treinamento.

XLVIII - O homem comum atribui as coisas que lhe ocorrem, principalmente os infortúnios, ao mundo e aquilo que lhe é exterior, isentando-se da culpa. O homem prudente atribui as coisas que lhe ocorrem, inclusive os infortúnios, a si mesmo, adquirindo sua responsabilidade por tudo aquilo que lhe ocorre. Desse modo, o homem comum não tem nenhuma culpa com aquilo que lhe ocorre, virando obra do acaso, enquanto o homem prudente tem toda a responsabilidade por aquilo que lhe ocorre, sendo ele mesmo o responsável por seu destino.
É perceptível nas pessoas que progridem que estas não recriminam ninguém, não elogiam ninguém, não acusam ninguém, não reclamam de ninguém e não dizem nada sobre si mesmos. Quando seus objetivos são frustrados eles culpam unicamente eles mesmos de terem frustrados seus planos. Quando alguém os elogia eles riem de quem os elogia. Se alguém lhes recrimina, eles não se defendem. Vivem como os convalescentes, precavendo-se nos movimentos para que não atrapalhe em seu progresso. Retiram de si todo o desejo e transferem a repulsa para as coisas que são seus encargos e são contrárias à natureza. Não se importam se parecem insensatos ou ignorantes, mas atentam-se a si mesmos como se fossem um inimigo traiçoeiro.

XLIX - Existem pessoas que acreditam ser merecedoras de reverência, respeito, pelo fato de terem lidos algumas obras de alguns autores e foram capazes de interpretar e entender tais livros. Mesmo que as obras lidas sejam de difícil discernimento, o ato de interpretar é reverenciado pelo literato, intérprete, não pelo filósofo. Você é literato? É interprete? Se assim for, e se sua vontade lhe dispor, referencie o ato, se isso lhe for conveniente. É filósofo, pensador independente? Então, não verá razão para reverenciar um ato de interpretação, pois sabe que a interpretação só se diz respeito àquele que interpreta. Se alguém lhe pedir para que interprete algo mantenha-se em seu lugar e não tome ação que não lhe diz respeito. É vergonhoso se colocar no papel de interpretar uma ideia e não ser capaz de exprimi-la interpretada na linguagem daquele que pediu a interpretação. Interpretar ideias é uma atividade que cabe unicamente aquele que deseja tomar tal ação.

L - Respeite todas as coisas que são postas como leis, considerando a transgressão uma impiedade para contigo mesmo. E se alguém falar algo sobre você, se alguém tentar lhe direcionar o pensamento, não dê atenção a isto, pois esta ação não lhe cabe.

LI - Quanto tempo será necessário correr, quanto tempo ainda será necessário para se dar conta que você é merecedor de coisas melhores? Você recebeu os princípios filosóficos, os quais são preciso concordar, para que dê andamento neste entendimento, e você concordou com eles. Por qual mestre você está esperando para que comece a sua própria correção? Você deixou de ser criança, adolescente, e agora você é um homem! Se continuar a fazer adiamentos, deixando o hoje para o amanhã, fixando novas datas, novos dias para começar algo que sente em seu íntimo; se continuar a ser descuidado, desleixado e preguiçoso deixando de cumprir seus deveres e deixar de buscar realizar seus sonhos, deixar de fazer as coisas no presente, você não perceberá que não progrides, que não evolui, que não sai de sua zona confortável e não melhora em nada, continuando a ser aquele homem comum como todos os outros que você critica ou já criticou. Então, considerando você um homem feito e que busca progredir e evoluir, considera sua vida merecedora de valor; considera sua vida como algo especial; considera sua vida como a melhor coisa que você tem e, principalmente, a única coisa que você tem e que será devolvida em breve. Que seja Lei  aquilo que for melhor para você. Quando um desafio surgir, seja ela prazerosa ou árdua, pequena ou grande, simples ou complexo, não importa, lembra-se que está é a única luta que você está inserido e sua vida depende disso, agora é a hora da disputa, da Copa do Mundo, e não há mais nada para esperar, pois você tem um objetivo a atingir e é a vitória desse desafio! Mesmo que lhe ocorra um revés, um deslize ou qualquer infortúnio, saiba que essa é a sua batalha e ela está bem ai, diante de você. Infortúnios ocorrem tanto para que retarde seu progresso quando para que conserve-o. Sócrates realizou-se, mesmo encarando grandes desafios, humilhações, pobreza, entre outros infortúnios, mas morreu dignamente, consciente  e realizado. Jesus foi torturado, humilhado, rejeitado e ainda sim morreu glorificado, consciente e realizado de seu objetivo. Assim tanto como vários outros mestres e grandes figuras estavam conscientes de seu funeral, mas nunca desistiram na dificuldade, pelo contrário, voltavam mais fortes e prontos para atingirem aquilo que sentia no íntimo de suas almas. E mesmo que você não seja como nenhum dessas grandes figuras  que surgiram na história, é importante que desejas ser como uma dessas figuras para que se inspires no seu ideal.

LII - Quando a utilidade da filosofia e sua razão de ser o que é saiba que há 3 princípios básicos válidos para toda filosofia. Em especial, o que é necessário é a aplicação desses princípios. O primeiro e mais importante é a aplicação da ideia, é a sua materialização no mundo, é ação em si mesmo, é a ideia com vida, com forma sendo deliberado e mostrando-se o que é. O segundo princípio filosófico se refere a demonstração dessa ideia, de como se materializará no mundo, daquilo que o sustenta como verdade e como razão de ser o que é. Por que é do modo que é? Por que se sustenta de tal forma? É possível demonstrá-lo a mim mesmo? O terceiro é o de ponderar sobre a própria filosofia, pensar, raciocinar, exercitar a reflexão acerca dos princípios que lhe são passados e verificar se condizem com a natureza e se diz respeito a teu encargo. Pondera bem sobre aquilo que julga bom e que será aplicado em tua vida, pois passamos a ser aquilo que fazemos! Por que essa ideia é uma demonstração? O que ela é em si mesma? De que qualidade ela é? Quais as consequências? Entra em contradição com a natureza? O terceiro se faz necessário em razão do segundo; o segundo se faz necessário em razão do primeiro. O primeiro é a ideia em ação, com vida, tomando forma e sendo aquilo que deve ser! Que empreguemos mais nossa energia na concretização do primeiro tópico, da ação, da aplicação ao invés de ponderarmos tanto sobre de que qualidade ela é, pois aquilo que é bom como aquilo que é mau são facilmente identificados através de inferências simples e que correspondem com a natureza.

LIII - Para toda ocasião, para onde é que for, tenha sempre em mente, tenha sempre à mão o seguinte:
Que Deus, o Universo, o Destino, e toda a força superior a mim me guie, me conduza para o posto ao qual já me foi previamente designado. Que sem duvidar e nem por me contra as as situações do Destino, as decisões de Deus e tudo aquilo que o Universo propor, seguirei e colocarei me a disposição para tudo, mesmo que estiver de mau grado.
Aquele que exercer a justiça e ceder à necessidade será reconhecido como sábio e conhecedor das coisas divinas.
Se assim é desejado pelos pelas forças superiores a mim, então, que assim seja!
Poderão até me matar, me ferir, me humilhar e me infligir qualquer tipo de agressão, mas jamais poderão me causar dano, causar meu sofrimento, minha dor.

 REFERÊNCIAS

 Mundo dos Filósofos. O Estoicismo. Disponível em:<http://www.mundodosfilosofos.com.br/estoicismo.htm>. Acessado em 27 de Junho de 2016, 20:59.

DINUCCI, A.; JULIEN, A.. Introdução ao Manual de Epicteto, Grupo de Pesquisa em Filosofia Clássica e Contemporânea do Departamento de Filosofia – Universidade Federal de Sergipe. 3ª Edição, São Cristóvão - 2012. Disponível em: <www.seer.ufs.br/index.php/prometeus/article/download/815/720>. Acessado em 23 de Junho de 2016, as 22:39.

Wikipédia. Manual de Epicteto. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Manual_de_Epicteto>. Acessado em 27 de Junho de 2016, 21:02.

4 comentários:

  1. Muito bom parabéns! Vc sabe onde posso comprar esse livro em português e em papel? Grato!

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    1. Olá Jopenetto. Fico feliz em saber que gostou :)
      É um documento de arquivo público e você pode ter acesso através do link que deixei como referência (Introdução ao Manual de Epicteto). Caso realmente tenha interesse em adquirir a versão impressa, poderá comprar por livrarias online (como a Livraria Cultura, por exemplo). Você pode digitar no Google "Manual de Epicteto" e clicar no link "Shopping" que irá lhe dar algumas opções virtuais de compra.

      Espero que tenha lhe ajudado!

      Abraço!

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  2. Nunca li um texto com tantos erros. Procure um bom revisor.

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    1. cara isso é um blog pessoal, não uma revista. Tenha paciência

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Enforque-se na corda da liberdade (Antônio Abujamra)