10 março 2016

Diálogo imaginário

- Por que não posso estar junto?
- Porque perto de você eu não consigo ser Eu.
- Como assim você não consegue ser você?

- Porque quando eu sou Eu passo a ser uma pessoa que fala muito mais alto em alguns momentos, lhe ofendendo, sou sarcástico, ácido, grosseiro, chato, insuportável, egocêntrico, que se acha mais bonito e mais inteligente que todos, que só Eu tenho razão, que só Eu tenho o direito de falar e de interromper, sou estúpido e não sou sincero. Aliás, posso estar calmo, ser polido, educado, gentil e como isso não condiz a Eu, logo mostra ser falso, que não tem sinceridade nas opiniões. Também devo ser muito hipócrita ou tendencioso por usar generalizações do tipo sempre, nunca, jamais, todas as vezes, frequentemente, quase sempre ... devo ser hipócrita ou tendencioso mesmo, pois sei, e todos sabem, que generalizações são apenas palavras para dar força a  uma oração e que não condizem a realidade, que sempre muda, volátil, viva. O Eu gosta de fumar, de beber, de se arriscar, de não se preocupar, de sorrir, de curtir, de bailar e as vezes de nada falar. Aprecia tudo com moderação e não acredita em verdades absolutas e deveras eternas que TODOS estão condicionados, caso contrário estão condenados a se fuderem na eternidade. Este Eu também não possuí uma crença que possa ser rotulada e comercializada, ou pelo menos ainda não encontrou tal rótulo e nem esteve disposto a se vender.

É do jeito que é, porque é!

E então poderíamos discorrer um longo debate sobre essa questão das coisas serem como são e não mudarem, com você defendendo que se fosse assim mesmo então no Mundo não haveria tamanha tecnologia, sociedades, saberes, ciência, filosofia, psicologia, fogão, geladeira e barará e bororó. Mas sabe, como no filme Divertidamente mostra, somos um corpo regidos por diversas emoções que dependendo de qual for mais intensa tomará cabo de seu corpo e conduzirá de acordo com a VONTADE dessa emoção. O que quero dizer é que Alegria, Tristeza, Medo, Raiva, Nojo são sentimentos que fazem parte de seu processo biológico e evolutivo e que sem qualquer uma delas, eu, você e qualquer outra pessoa estaria confinada a alguma tragédia em que a expectativa de vida se reduziria e a aprendizagem em alguns setores (a depender de qual emoção/extinto estamos nos referindo) estariam perdidos, obsoletos, sem meios de aprender e significar, em outros momentos ressignificar.

Não é fácil entender que o chocolate Sonho de Valsa é um lixo quando você e mais 200 milhões de pessoas acham que não é. Não é fácil entender a vontade do outro quando a vontade que se tem é oposta e vai contra os interesses de outrem. Não é fácil escolher entre o bom e o bom, e principalmente entre o ruim e o ruim.
Não tem fórmulas, não tem mágica. Não espero  que compreenda, nem que mude de opinião. Na verdade só digo o que preciso dizer. Você sabe por quê?

Porque esse sou eu!

E falar em mudar Eu para melhor é algo que só compete a meu processo evolutivo e que só pode partir de mim mesmo. Melhorar para agradar o outro é resposta de aceitação do Ego. Por acreditar ter uma vida a viver com muitas experiências, creio que já vivi o suficiente pelo Ego. Ele sempre está ali e sempre estará, mas me ajudará de outra forma com o Outro, sendo um conselheiro do Eu ao invés de tentar ser o próprio Eu.

Sempre será mais fácil escrever (apesar de limitar o discurso) do que falar, pois aqui pode ser lido até o fim ou não, mas não tem como me impedir de dizer o que já disse, nem de me interromper para debater sobre as razões de eu ter que me enquadrar, como faz os melhores em referência ao que se diz. Pode fazer muito sentido ou pode não fazer sentido algum. Responsabilidades à parte, o entendimento da mensagem cabe sempre ao receptor. Sim, sei que esse sempre não condiz a realidade, mas não sou capaz de forçar alguém a enxergar do modo como enxergo. Não consigo fazer um PTista virar PMDBista ou um PMDBista virar um PTista. Não consigo fazer um Cristão virar Judeu ou vise-versa. Não sou Deus. Não sou o Outro.

Eu só sou Eu :D

- (...)

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Enforque-se na corda da liberdade (Antônio Abujamra)