05 maio 2016

Mais um aniversário

Quinta-feira, 5 de maio de 2016, em muitos lugares dizem que estou completando 23 anos. Dou fé. Levanto da cama como habitualmente, me visto correndo, pego minha bolsa e me despeço de minha esposa, tudo sendo feito como habitualmente.
Encontro as pessoas no ponto e digo em alto tom "Bom dia", seguindo a rotina de sempre. Embarco no ônibus e novamente a ideia volta a minha cabeça.
"É seu aniversário! Você está fazendo 23 anos, o que tem mudado? O que há de diferente entre seus 22 e seus 23? E os seus 21? E seus 20? O que está diferente? Você está fazendo as mesmas coisas sempre!"
Paro de pensar nisso, mudo meu pensamento, me lembro que os pensamentos eram diferentes dos que são hoje, então, reconheço a mudança, mas, não sou hipócrita para acreditar que isso é decorrência do passar dos dias e que depois de + ou - 365 dias tenho uma grande revolução. Na verdade, acredito que esta revolução em um grande dia, como o aniversário, é possível, mas que pode ocorrer em qualquer dia, em qualquer momento, a qualquer hora, em qualquer lugar, de qualquer modo, não sendo necessariamente o dia em que completa mais um ano o dia da reviravolta.

Surge uma carência afetiva, uma necessidade de ser reconhecido por algo, de ser visto com olhos diferentes daqueles costumeiros olhares cansados de quem segue suas rotinas extenuantes, aclamando por uma interação que faça sair de sua rotina, sempre esperando pela ação do outro, com medo do julgamento. Então penso Como seria se eu dissesse ao mundo que hoje é meu aniversário de 23 anos? Diria "oi, sabia que hoje é meu aniversário?", aaah, idiota, é claro que a pessoa não sabe, ela não sabe nem mesmo o seu nome, nem onde você trabalha, nem nada. O máximo que ela sabe é que você pega o mesmo ônibus que ela. Sim, nesse momento me reconheço como um idiota, mas eu mesmo me conforto considerando a hipótese de que há outros idiotas como eu.

Quase chegando ao louvável e admirável ganha-pão recebo um SMS me felicitando pelo meu aniversário. Meu primeiro parabéns do dia, de minha mamãe. Todas aquelas palavras utilizadas para fazer você se sentir especial e tu não ter nem mesmo 1 real de crédito para poder agradecer o carinho de sua mãe. Que louvável e admirável, heim? Sigo o percurso.

Então, durante o resto do dia, por uma grande maioria, recebo aquelas felicitações clichês, mostrando que existe muitas pessoas que se importam, que são gentis, que cumprem um protocolo, que sentem vontade de uma interação diferente do bom dia, que sentem pena, enfim, que sentem ou seguem qualquer coisa, mas que no final das contas, não tem importância. Há alguns casos que são interessantes, pois parece irônico suas felicitações ou protocolar mesmo. Outras são bem incomuns do tipo "É hoje né, é hoje ...". Bom, o mais interessante de tudo é você está trabalhando com essas pessoas há quase 3 anos e sempre que faz aniversário ou alguma situação que requer sua idade, nunca sabem, sempre perguntam "quantos anos?". Não os culpo, só os denuncio. Não os culpo, pois também não sei a idade da maioria, ou talvez de ninguém, mas isso mostra a distância que temos uns dos outros. Interessante é que nas primeiras vezes eu disse 21, 22 e ... 28! Poise, eu menti e maior parte acreditou, ou fingiram ter acreditado só para não ter o trabalho de continuar a conversa.

Depois, entro na minha caixa de e-mail. É incrível como as empresas prestadoras de serviços online oferecem os 10% de desconto o ano inteiro e quando chega no seu aniversário eles dizem:
"Parabéns, feliz aniversário! Muitas felicitações para você. Por causa de seu aniversário estaremos te dando incríveis 10% de desconto na compra de qualquer coisa em nosso site".
Poise, o que eles oferecem o ano inteiro não faz diferença no dia do seu aniversário. O melhor presente que eles poderiam ter me dado é nada. Nenhum spam já seria muito útil.

Sim, meu dia de aniversário foi mais ou menos por ai, nada surpreendente. A noite, enquanto escrevo, está muito melhor, mas se deixo uma dica sobre o que me agrada, só escrevo duas palavras: dar risada.

Um comentário:

Enforque-se na corda da liberdade (Antônio Abujamra)